OLHAR O RETROVISOR PENSANDO O FUTURO

Trinta anos é muito tempo e se pensarmos que a ANECRA realiza a sua reunião magna há exatamente trinta anos de forma ininterrupta, mais valor somos obrigados a conferir ao esforço que homens e mulheres, abnegados e sempre a pensar no melhor para os associados, fizeram ao longo do tempo. Olhemos então para o retrovisor da história para percebermos como chegámos à 30ª edição da convenção ANECRA com o tema “Horizonte 20/30 – Que Automóvel? Que Negócio?”

 

Longos dias tem uma Associação que nasceu em 1910 do século passado, como longos dias têm trinta anos de Convenções ANECRA. Um número redondo que significa trabalho, empenho, compromisso e, sobretudo, paixão por um setor que é dos mais importante para a economia do país.

Por isso mesmo, para olharmos para o passado, recorremos à voz autoritária – pelo conhecimento – de uma pessoa que esteve em 23 das 30 edições da Convenção ANECRA, o antigo Secretário Geral, Jorge Neves da Silva.

“Cheguei à ANECRA em 1996, no mês de setembro e logo em novembro tínhamos que realizar a Convenção” começa por nos dizer o economista que tem uma longuíssima carreira no setor automóvel. Nesse ano o tema da Convenção foi “O Automóvel e o Consumidor: um desafio permanente”.

Para Neves da Silva, “foi complicada essa primeira convenção em que contribui, tendo alterado algumas coisas, algo que deu muito trabalho, mas conseguimos e isso foi o mais importante.”

Ao longo destes muitos anos de vida da Associação e da Convenção, os membros da direção e todos os elementos que passaram pela ANECRA assistiram à mudança do setor e à evolução que tem sido experimentada. “É verdade, sempre lutámos pelos nossos associados e, também, pelos portugueses, pois promovendo o bem-estar daqueles que compõem a Associação, promovemos o bem-estar dos consumidores. A defesa de uns leva á defesa de todos.”

Jorge Neves da Silva lembrou várias “lutas” que a ANECRA assumiu, nomeadamente, a luta contra a economia paralela e contra os “stand trata”. Se recordarmos, tempo houve em que as ruas estavam inundadas de carros com escritos nos vidros com a famosa frase “Trata-se” para evitar a palavra proibida “Vende-se”, invadindo praças e estacionamento. A ANECRA “envolveu-se seriamente nisso e conseguiu acabar com essa economia paralela, conseguindo acordos e protocolos com algumas câmaras, para criar feiras de venda de usados, mas com condições em sobretudo, oferecendo garantia aos consumidores.”

Mas outras guerras foram sendo travadas. “Sim, sempre tivemos como objetivo travar a economia paralela, algo que é muito nefasto para a economia do país e péssimo para o setor. A Convenção ANECRA sempre teve essa preocupação” lembra Jorge Neves da Silva. O economista esteve em alguns governos e fez parte do grupo que estudou, desenhou e finalizou a proposta da legislação fiscal para o automóvel, passando o Imposto Automóvel (IA) para o Imposto Sobre Veículos (ISV), modelo misto “que muito me orgulho de ter contribuído, contra muita oposição que não aceitava o modelo misto, defendendo o sistema ‘ad valorum’.”

Jorge Neves da Silva lembra os anos da crise de 2007 “onde a falta de dinheiro no bolso dos consumidores, impedia que o mercado mexesse e as pessoas não conseguiam comprar novos modelos e, sobretudo, fazer a manutenção dos veículos.” Algo que tocou de forma sensível o setor da reparação automóvel. Além disso, “depois da euforia que levou a que o mercado rejuvenescesse e chegasse a uma idade média em redor dos 8 anos, voltamos a regredir com a chegada da crise e da famosa ‘troika’.”

Jorge Neves da Silva e a ANECRA estiveram envolvidos no sistema de incentivos ao abate que funcionou durante bastante tempo “e contribuiu para voltar a rejuvenescer o parque automóvel” tendo a ANECRA estado envolvida em fazer regressar esse sistema de incentivo ao abate.

O economista que foi Secretário Geral da ANECRA durante muitos anos, deixando de olhar para o espelho retrovisor, lembrou três aspetos muitos importantes. “Luta contra a economia paralela, luta contra a corrupção, aposta forte no desenvolvimento e na tecnologia e defesa intransigente dos nossos associados e, por consequência, dos consumidores e, em última instância, do Estado português.”