PANDEMIA TRAVOU O MERCADO DE FROTAS, UM DOS PRINCIPAIS CANAIS DE VENDAS DO SETOR AUTOMÓVEL

O mercado de frotas é relevante no setor automóvel, constituindo, em circunstâncias normais, um dos principais canais de vendas na área. Todavia, estamos a viver um período anormal e este mercado está, como muitas outras áreas de negócios, a sofrer com a pandemia. Helder Pedro, secretário-geral da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP), atesta-o, explicando que o mercado de frotas de Portugal se encontra em queda, estando “em linha com a crise no setor do comércio de veículos novos, em geral, e que tem tido efeitos bastante negativos, quer sobre as empresas, quer sobre os particulares”.

Indagado sobre como está o mercado de frotas para empresas em Portugal e qual a importância do mesmo no país, Roberto Gaspar, secretário-geral da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel – ANECRA, responde que este segmento “tem vindo a ganhar importância e quota de mercado de forma bastante consistente ao longo dos últimos anos”. Até há muito pouco tempo, antes da pandemia, uma parte significativa das vendas de automóveis ligeiros em Portugal estava alicerçada em grande medida nas gestoras de frota e rent-a-car, informa o responsável da ANECRA. Mas hoje o segmento das gestoras passou a ter como palavra de ordem “Prolongar os Contratos em detrimento de Novos Contratos”.

“O negócio das gestoras de frota assenta na necessidade de terem modelos de previsão sólidos e estáveis. Grande parte do segredo do negócio tem como princípio a capacidade de projetar o valor dos carros num horizonte de quatro ou cinco anos, o designado valor residual. Acontece que hoje este é um exercício difícil de fazer e de risco, muito em particular se tivermos em consideração as indefinições atuais”, refere Roberto Gaspar, e continua: “Desde logo a duração da pandemia e o comportamento da economia nos próximos meses. Depois, mas também importante, em especial quando conjugado com a crise, a questão dos processos que estão em curso no mercado automóvel e que dificultam muito quem tem de tomar decisões importantes e estratégicas, como é o caso do processo de diabolização dos motores de combustão e a aceleração dos híbridos e dos elétricos, com todas as indefinições e as interrogações inerentes”.

Seja como for, o secretário-geral da ANECRA acredita que, passada a crise pandémica, o segmento das frotas, e aqui alarga o que denomina como segmento de frotas para todos os operadores que se enquadram no que se resolveu designar como novos conceitos de mobilidade – viaturas partilhadas, TVDE, modelos de utilização mista, entre outros –, “irá ter, cada vez mais, um papel determinante no setor automóvel”.

Por sua vez, Pedro Machado, Audi Fleet Manager, recorda que o mercado de frotas em Portugal, depois de um arranque promissor, “sofreu uma grande quebra” com a chegada da covid-19. “Penso que existe a tendência para estabilizar, uma vez que as decisões de compra não podem ficar em suspenso eternamente”, vaticina e prossegue: “Assim, à medida que as empresas se vão adaptando a esta nova realidade, tudo vai evoluindo. Em função disto estou convencido de que as marcas tenderão a conseguir recuperar algum do volume perdido e até poderemos assistir a crescimentos pontuais em algumas delas. O Orçamento do Estado de 2021 terá um papel importante neste impacto, pelo que aguardemos para ver o que nos traz.”

Em stand by

 Questionado se as empresas em Portugal estão a apostar na renovação das suas frotas, Helder Pedro, secretário-geral da ACAP, responde que, pelos dados de que dispõe, “esta grave crise também se refletiu negativamente na renovação de frotas por parte das empresas”. “Esperamos que esta situação seja ultrapassada porque essa renovação é vital para o setor empresarial”, deseja.

Roberto Gaspar utiliza um discurso semelhante ao de Helder Pedro, dizendo que os dados que tem a ANECRA apontam para “o facto de uma parte significativa das empresas estarem a adiar a decisão de renovação das frotas e sempre que possível a protelar os contratos que têm atualmente”.

Quanto a Pedro Machado, afirma que as empresas nacionais, como parte integrante deste mercado, têm vindo a perceber as mudanças do setor e vão-se adaptando. “Obviamente esta evolução ocorre a várias velocidades, mas de uma forma geral essa renovação tem acontecido, sendo que os conceitos de TCO (Total Cost of Ownership) e agora de TCM (Total Cost of Mobility) têm vindo a ser cada vez mais considerados nos momentos de decisão”, garante o responsável da Audi, prosseguindo: “Há mais variáveis a considerar hoje do que havia no passado e isso dá cada vez mais protagonismo ao setor das frotas do ponto de vista das empresas, tornando-se o seu peso na contabilidade das mesmas cada vez mais relevante.”

No que toca aos veículos elétricos e híbridos, têm de facto uma maior procura. “Na verdade, Portugal está mesmo no top 5 no ranking europeu de vendas destas viaturas”, informa Roberto Gaspar. O secretário-geral da ANECRA acrescenta que os incentivos fiscais previstos para os elétricos são determinantes para o crescimento que têm vindo a ter no nosso país. “Sou cético em relação ao modelo de incentivos fiscais que temos em Portugal para o setor automóvel no seu todo. Estes incentivos visam reduzir as emissões de CO2 produzidas pelo nosso parque automóvel, por isso, parece-me que deveríamos pensar, antes de mais, em reduzir a idade média do nosso parque automóvel, atualmente na ordem dos 14 anos.”

Recentemente – conta Roberto Gaspar –, a ANECRA voltou a alertar para a necessidade da reintrodução do “Incentivo ao Abate de Viaturas Usadas”, medida que, além de ter um efeito importante no apoio à retoma do setor, teria também um efeito de grande alcance do ponto de vista ambiental.

Seria importante perceber que a redução das emissões “se faz também, e sobretudo, através da redução da idade do parque automóvel, lançando viaturas menos poluentes no mercado, independentemente do tipo de motorização, seja elétrico, híbrido, gasolina, diesel, etc.”.

Colocando especificamente as frotas de lado e levando este setor para um cenário mais geral, surgiu uma boa notícia para auxiliar a atividade automóvel: o mercado de automóveis de passageiros da UE registou recentemente o primeiro aumento do ano. Houve um crescimento de 3,1% de veículos de passageiros matriculados no mês passado, chegando aos 933.987 carros novos vendidos em toda a UE.