OBSERVATÓRIO INDICATA | NOVO CORONAVÍRUS CAUSA ESTRAGOS NO MERCADO DE USADOS

De acordo com o 11.° relatório do Observatório INDICATA, as vendas totais de automóveis usados em novembro caíram 15,6% em termos globais face ao período homólogo do ano passado. Em Portugal, o cenário foi de subida: 9,6%.

As vendas de automóveis usados inverteram-se à medida que um segundo pico da pandemia de covid-19 impõe novas restrições em toda a Europa, resultando numa queda de 15,6% em relação a novembro de 2019 (em outubro, recorde-se, tinha sido registada uma subida de 12,5%).

A rotação de stock continua a ser mais elevada do que há um ano, com o gasóleo (+9% YoY) e a gasolina (+14% YoY) ainda a serem procurados. Contudo, a redução da procura face ao mês passado viu a rotação de stock reduzir com o gasóleo 5,6x, a gasolina 5,1x e os híbridos 4,2x, com os BEVs a ficarem mais tempo em stock, com uma rotação de apenas 3,8x.

No mercado de automóveis usados, as vendas caíram tanto para os modelos a gasolina (-15%) como para os modelos a gasóleo (-22%), ao passo que as motorizações “alternativas” obtiveram melhores resultados, com os BEVs a subir 84% e os híbridos a aumentar 62%, tudo em termos homólogos.

As vendas de automóveis novos e usados começaram tipicamente a abrandar desde final de outubro até ao final do ano. No entanto, assiste-se a uma queda muito mais abrupta este ano. A segunda vaga de infeções provocadas pela covid-19, que se intensificou na Europa em outubro e novembro, viu a introdução de um segundo confinamento ou, pelo menos, de controlos mais rigorosos em grande parte do Velho Continente.

Apesar das várias medidas introduzidas pelos governos europeus, o mercado de trabalho também atingiu o seu ponto de viragem, resultando em níveis de desemprego que não se viam desde a crise económica de 2008. O desemprego na UE deverá atingir os 7,7% até final deste ano, subindo para 8,6% em 2021, de acordo com dados mais recentes da Comissão Europeia, embora algumas previsões apontassem para 9,4%.

Níveis de stock sobem, vendas caem

Analisando as vendas de automóveis usados, em setembro deste ano cresceram 18,4% em relação a igual mês de 2019, uma vez que a procura pendente durante o período anterior de bloqueio resultou em fortes níveis de crescimento. Embora outubro tenha visto o nível de crescimento das vendas diminuir (subiu, ainda assim, 12,45% em termos homólogos face a 2019), este foi ainda um bom resultado, sublinhando a forma como o mercado estava a tentar compensar as vendas do primeiro semestre de 2020.

Contudo, novembro demonstrou como essa recuperação foi frágil, uma vez que as vendas caíram 15,6% em relação a igual mês do ano passado. Com as restrições à liberdade de circulação, combinadas com a perda de postos de trabalho e a incerteza sobre o futuro económico, a redução das vendas de automóveis usados a que se assiste em grande parte da Europa não é surpreendente, mas a escala dessa redução indicará que o mercado de vendas de automóveis usados em 2020 pode ter chegado ao fim um mês antes do normal.

Esta edição do Observatório INDICATA mantém-se focada tanto em volumes como na rotação de stock, tentando obter pistas sobre o que estes indicadores revelam sobre o início de 2021. O abrandamento do primeiro confinamento registou um aumento da procura e os retalhistas fizeram um esforço para obterem stocks de automóveis usados que fizessem face à mesma.

Desde uma posição inicial de junho de 2020, assistiu-se a níveis de stock 15% mais baixos até setembro, à medida que os retalhistas se esforçavam por satisfazer a procura. A situação melhorou em outubro, com os retalhistas a fecharem a diferença para junho de 13,4% em todos os mercados e, em novembro, o fosso para o ponto médio baixou para apenas 9,1%.

Apenas um mês depois de ter sido discutido o impacto do abrandamento dos bloqueios, importa, agora, considerar o impacto das novas restrições, quer se trate de um segundo bloqueio ou apenas de restrições mais apertadas e outras medidas. Na maioria dos mercados, a redução das vendas e o facto de os retalhistas terem comprado stock, resultou numa subida dos níveis de stock em comparação com o mês passado.

Em novembro, já havia sido assinalado o risco de abrandamento das vendas, criando pressões de stock para os retalhistas. Com dezembro a ser tradicionalmente o mês mais calmo no calendário do mercado automóvel e as restrições da covid-19 ainda em vigor, a posição de stock só deverá agravar-se ainda mais à medida que se avança para o final do ano, deixando muitos retalhistas com excedentes de stock na entrada em 2021.

Portugal evidencia padrão diferente

Tal como o Observatório INDICATA havia reportado no mês passado, as vendas de automóveis usados em Portugal estão a abrandar, um padrão que, aliás, se repete em toda a Europa. Mas, também, tal como no mês passado, a taxa de crescimento das vendas passou apenas de forte para muito boa.

Depois de um crescimento de 39% em agosto, as vendas de automóveis usados cresceram 36,2% em setembro e 31,1% em outubro. Em novembro, mesmo com a taxa de crescimento a descer para +9,6% em termos homólogos, continua extremamente saudável. No mês passado, foram reportadas restrições à oferta, com os níveis de stock a subirem apenas 0,3% no mês passado e a descer 12,4% em relação aos níveis de junho.

O regime fiscal e a dinâmica do mercado dos automóveis a gasolina mais pequenos em Portugal explicam porque é que este país está a mostrar um padrão de vendas diferente dos outros. Um aumento de 45% nas vendas de gasolina em termos homólogos em novembro, juntamente com uma rotação de stock elevada, demonstra como a oferta está constrangida e indica mais oportunidades de venda.

Os BEVs (+97%) e híbridos (+66%) também desfrutaram de mais um mês de crescimento saudável das vendas, mas a baixa rotação de stock indica uma oferta desafogada de veículos e, portanto, menos uma oportunidade para novas vendas em comparação com os veículos a gasolina. Embora as taxas de crescimento das motorizações “alternativas” pareçam surpreendentes, vale a pena recordar que estão a sair de uma base de volume mais baixa.

A rotação de stock dos gasolina de 6,8x no mês passado baixou para 4,6x este mês, com as outras motorizaçõess a registarem reduções semelhantes. No entanto, embora os níveis de stock estejam ligeiramente acima (mês sobre mês), a procura continua a ser superior à oferta global.

A área de maiores oportunidades mantém-se no segmento mais jovem, onde as vendas subiram 49% e o stock está a rodar 5,2x, um aumento de 52% em relação ao ano passado. Uma vez que o índice de preços se baseia numa amostra constante e consistente de veículos, é esperada uma ligeira diminuição ao longo do tempo devido ao declínio natural do ciclo de vida do produto. No entanto, a forte procura manteve os preços estáveis, com uma pequena tendência ascendente durante grande parte da segunda metade deste ano.

O relatório completo, que demonstra a realidade em diversos países europeus, pode ser consultado aqui.