EMPRESAS BRITÂNICAS DO SETOR AUTOMÓVEL AVALIAM CENÁRIOS “PÓS-BREXIT”

No Reino Unido, vários líderes da indústria avaliam o futuro cinzento “pós-Brexit.” A curto prazo, as atividades do setor passarão a estar reféns da gestão feita nas fronteiras ou de eventuais atrasos nos controlos alfandegários, o que é motivo de preocupação acrescida.

Em entrevista à Euronews, Greg Mcdonald, proprietário de várias fábricas no Reino Unido e diretor-executivo do Goodfish Group, confessou estar a preparar-se para abrir instalações na Eslováquia de modo a poder continuar a servir clientes do outro lado do que chamada de “cortina do Brexit.”

“12 meses após a votação começámos a assistir a uma queda no trabalho para um cliente japonês – baseado no Reino Unido – que deslocalizou a produção para a Chéquia de forma bastante rápida. Assistimos também a uma queda gradual nesse lado do nosso negócio e fechámos há 18 meses”, sublinhou, em entrevista à Euronews, Greg Mcdonald.

O diretor-executivo do Goodfish Group acrescentou: “A Jaguar Land Rover foi para a Eslováquia e construiu uma enorme fábrica. Acabei por decidir que a Eslováquia era o lugar para estar porque é possível chegar rapidamente à Polónia, Chéquia, Hungria, Roménia. Estamos prontos. Visitei lugares potenciais. Fiz tudo o que podia, exceto carregar no botão. Carregarei no botão quando o consumidor disser: Precisamos que isto seja feito no outro lado da cortina do Brexit.”

A indústria europeia está dependente de componentes que se movem de fábrica para fábrica, sem fronteiras nem atrasos. Deixará de ser assim quando dos controlos fronteiriços no Reino Unido regressarem em janeiro.

“Significa que um fabricante pode apenas obter as partes de que precisa um ou dois dias antes da data em que realmente precisa de as usar. Se o sistema just in time for impactado, provavelmente veremos fabricantes a ter de investir muito mais em armazenamento para que possam acumular stock. Se não tiverem essa capacidade poderão acabar por enfrentar escassez de produtos com impacto na produção. Mesmo estes pequenos custos como armazenamento contam”, referiu Anna-Maria Biasden, da consultora Fitch Solutions.

Os custos extra fazem sempre os líderes industriais pensar duas vezes e antevê-se que seja assim no curto prazo.

Tadhg Enright, Euronews – É uma decisão que muitos líderes nesta indústria têm pela frente. Se já não estão ligados a uma cadeia de fornecimento europeia sem costuras e têm de lidar com documentos e atrasos ao cruzar o Canal da Mancha, devem ficar ou devem partir?

Recentemente, a BMW anunciou que deixaria de produzir motores elétricos na fábrica perto de Birmingham e que usaria as instalações para produzir motores a gasolina e a diesel, que estarão obsoletos nos próximos 20 anos.

As fábricas automóveis representam investimentos milionários sendo difícil fazer simplesmente as malas e partir. Mas à medida que as grandes decisões se aproximam sobre o futuro das fábricas, uma “fronteira dura” dificilmente contará a favor do Reino Unido.