Investigadores fecham a porta aos e-fuels alemães

Os construtores alemães têm vindo a bater-se pela adopção do e-fuel, ou combustível sintético, como alternativa aos carros eléctricos. Porém, os investigadores afirmam que emite quatro vezes mais CO2.

Para evitar tecnologias que não dominam e que lhes estão a consumir margens de lucro, como acontece com a mobilidade eléctrica, os construtores de automóveis fazem de tudo para continuar a produzir carros com motores de combustão, a gasolina ou a gasóleo. Os alemães, em particular, têm vindo a realizar esforços e montar operações de lobby para forçar a adopção de combustíveis sintéticos, os e-fuels. Mas um estudo recente coloca tudo em causa.

Os e-fuels, para serem vantajosos em matéria ambiental face aos seus parentes derivados de petróleo, necessitam de ser produzidos a partir de hidrogénio gerado a partir de fontes renováveis e de carbono capturado na atmosfera. Esta é a solução defendida pelas marcas alemãs, respectivamente a BMW, Mercedes e Grupo VW, sempre com o apoio da Bosch, essencialmente as mesmas empresas que estão ligadas ao Dieselgate e ao mais recente potencial escândalo, estando em vias de serem acusadas de cartel para evitar e atrasar a adopção de medidas destinadas a poupar o ambiente.

Já se sabia que os e-fuels, mesmo nas condições ideais descritas atrás, emitem CO2 quando são queimados, exactamente na mesma quantidade que retiraram da atmosfera para a sua produção – o que quer dizer que são apenas neutros em carbono e não isentos dele –, produzindo ainda NOx, os malfadados óxidos de azoto que prejudicam seres humanos e o ambiente.

Se a aposta nos e-fuels defendida pelos fabricantes alemães dificilmente tinha pés para andar antes, apesar de as marcas envolvidas se esforçarem por centrar a discussão no CO2, que este tipo de combustível emite, mas é neutro, a situação complicou-se depois de se tornar público um estudo levado a cabo pelos cientistas do Instituto Potsdam para a Investigação do Impacto Ambiental (PIK).

Afirma Falko Ueckerdt, do PIK, “que apesar de se utilizar hidrogénio verde, face ao mix de produção de electricidade em 2018, estes e-fuels emitiriam três a quatro vezes mais CO2 do que se estivéssemos perante gasolina e gasóleo derivados de petróleo”. Uma realidade que tem a ver especificamente com o facto de a Alemanha ainda possuir 84 centrais eléctricas a carvão, altamente poluentes e grandes emissoras de carbono.

Mas o PIK vai mais longe e chama a atenção para o facto de a energia necessária para produzir os e-fuels ser muito elevada. Os investigadores de Potsdam chegaram mesmo à conclusão que seria necessária cinco vezes menos energia, caso o objectivo fosse locomover veículos 100% eléctricos, alimentados por bateria, o que não deixa antever grande futuro para os combustíveis sintéticos.

Os investigadores do PIK afirmam ainda que, mesmo com electricidade 100% verde, ou seja, gerada por fontes exclusivamente renováveis, o custo de evitar a emissão de uma tonelada de CO2 com recurso a combustíveis baseados no hidrogénio rondaria os 800€, para combustíveis líquidos como a gasolina, um valor bem superior ao custo actual da tonelada de CO2 na União Europeia, que ronda os 50€. Segundo os especialistas de Potsdam, só lá para 2040 os e-fuel serão competitivos em matéria de custos.

Fonte: Observador

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