ONU anuncia fim da gasolina com chumbo

Argélia gastou as últimas reservas que ainda tinha e acabou com a venda deste tipo de combustível.

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) anunciou, na segunda-feira, que a gasolina com chumbo já não é usada em qualquer país do mundo, um marco que vai permitir salvar 1,2 milhões de vidas por ano e representa uma poupança de economizará mais de 2,4 triliões de dólares (cerca de 2 triliões de euros). A Argélia, último país a utilizar este combustível, esgotou as últimas reservas no último mês e acabou com a sua venda.

As autoridades de saúde alertavam para os efeitos tóxicos da gasolina com chumbo há quase um século. “O sucesso da campanha de proibição da gasolina com chumbo é um marco para a saúde no mundo e para o meio ambiente”, celebrou Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA, sediado em Nairóbi, capital do Quénia.

Há apenas 20 anos, a gasolina com chumbo estava presente em mais de 100 países, apesar de ter sido identificada por estudos científicos como causadora de mortes prematuras, de efeitos prejudiciais à saúde, de poluição do ar e de contaminação dos solos.

O ministro do Ambiente fala de um dia simbólico. Ouvido pela TSF, João Pedro Matos Fernandes sublinha que o mundo está no caminho certo para deixar de usar combustíveis fósseis.

“No fundo, quando se pensou em acabar a gasolina com chumbou, pensou-se sobretudo em acabar com os poluentes que estavam associados aos próprios combustíveis fósseis”, começa por explicar, sublinhando que “hoje estamos numa geração de deixar de utilizar os combustíveis fósseis”. “É bom podermos dizer que a primeira etapa do nosso caminho foi dada por concluída”, afirma.

Apesar de Portugal já não usar combustível com chumbo há cerca de 20 anos, uma vez que esse componente foi substituído por outros compostos, Francisco Ferreira, presidente da Associação Zero, vê na erradicação deste tipo de poluente um marco significativo.

“É impressionante como demorou tanto tempo até que o último país, neste caso, a Argélia retirasse efetivamente o chumbo da gasolina e este é um marco muito significativo, porque infelizmente muitas pessoas acabaram por ser verdadeiramente envenenadas à custa deste composto”, explica Francisco Ferreira, em declarações à TSF.

O presidente da Associação Zero refere que o chumbo estava presente “nos canos em casas muito antigas, nas tintas e na poluição do ar, associada aos veículos que usavam gasolina com chumbo”.

“Para Portugal, esse foi um problema do século passado. Felizmente, à escala mundial também ultrapassámos esta fonte de poluição que durante muitas décadas teve prejuízos graves para a saúde pública”, acrescenta.

A luta contra as alterações climáticas continua até haver uma passagem para energias limpas. Mesmo sem o uso de combustível com chumbo, um automóvel continua a ser poluidor, devido ao dióxido de carbono e aos óxidos de azoto que emite.

A solução passa pelos veículos elétricos ou movidos a hidrogénio, bem como pela aposta nos transportes públicos, no andar de bicicleta ou a pé.

A gasolina com chumbo foi lançada há quase cem anos para aumentar o desempenho dos motores e foi largamente usada durante décadas até se descobrir que podia provocar doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais e danos cerebrais.

O primeiro sinal de alerta para o perigo deste tipo de combustível surgiu em 1924, quando cinco trabalhadores de uma refinaria de Nova Jérsia, nos Estados Unidos, morreram após sofrerem convulsões, num acidente que levou também a dezenas de hospitalizações.

Até à década de 1970, toda a gasolina vendida no mundo continha chumbo e os países mais prósperos começaram a deixar de a utilizar na década de 1980, mas ainda continuou a ser vendida em países de rendimentos médios e baixos até 2002 – Estados Unidos, China e Índia já não a utilizavam -, quando as Nações Unidas lançaram uma campanha global para acabar de vez com a gasolina com chumbo, que continua a ser usada em combustível para aviões pequenos.

Em 2016, Coreia do Norte, Birmânia e Afeganistão foram alguns dos últimos países do mundo a acabar com a venda de gasolina com chumbo. Iraque, Iémen e, finalmente, a Argélia, acabaram por fazer o mesmo.

As Nações Unidas estimam que o fim definitivo da gasolina com chumbo significa 1,2 milhões de mortes evitadas e 2,4 mil milhões de dólares poupados anualmente.

Fonte: TSF

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