Falta de automóveis. Compra de carro novo pode demorar mais de um ano

Escassez de chips e semicondutores levou fábricas a parar produção de muitos modelos. Falta de viaturas novas está a inflacionar o preço dos carros em segunda mão. Há relatos de carros usados a custar mais do que os novos.

Há clientes em Portugal que estão a esperar mais de um ano para conseguir comprar carro novo. A paragem de várias fábricas de construção de automóveis a nível mundial está já afetar o normal funcionamento do mercado nacional.

Uma outra consequência deste fenómeno é no mercado de usados, onde há também escassez de viaturas pelo aumento da procura. A tendência é explicada com a falta de produto novo e de os grandes compradores empresariais de frotas ou as rent-a-car reterem os carros de serviço por não terem viaturas em primeira mão para comprar.

Por isso, neste momento, quem quer vender um carro usado ganhará mais dinheiro, mas quem comprar também vai gastar mais dinheiro. Há mesmo carros usados a custar mais do que o mesmo modelo novo.

Num caso relatado à Renascença, um Peugeot 107, que novo custaria 11.700 euros, estava a venda usado no site de vendas “Standvirtual” por mais três mil euros.

As peças que faltam

O secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), Hélder Barata Pedro, confirma que há uma falta cada vez maior de carros novos no mercado nacional, que diz ser consequência da crise mundial de produção de chips e de semicondutores que, entre outras, tem levado a paragens de produção também em Portugal, na Autoeuropa.

“Está a ter um impacto muito negativo, em Portugal e nos outros países. Há uma longa lista de espera, e os clientes não percebem a situação que cria grandes constrangimento”, avança Barata Pedro.

O gerente do stand Megastore, na Amadora, Carlos Maciel afirma à Renascença que esta é uma situação que se tem agravado de semana para semana, e que além dos novos, também em relação aos seminovos e aos usados há cada vez menos carros no mercado.

“É nos modelos que se vendem mais [do segmento mais baixo], que houve rotura de stock mais depressa. Os Clio, os C3, por exemplo, não há para entrega”, assegura.

Carlos Maciel diz que está de mãos e pés atados porque não consegue comprar carros novos, uma vez que “as marcas não conseguem fazer descontos, e isso faz com que o negócio não seja interessante para nós”.

Pequeno e médio retalho em luta pela sobrevivência

Já o presidente da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA), Alexandre Ferreira, encontra outras explicações para o momento que o mercado está a viver.

“A primeira questão tem a ver com as compra efetuadas pelas rent-a-car e gestoras de frotas que não acumularam stocks durante o período habitual em função da crise”, explica.

A falta de viaturas novas, explica Alexandre Ferreira, levou à aquisição de veículos seminovos ou usados “de uma forma que nos surpreendeu em termos de mercado”.

O mesmo dirigente associativo considera que a falta de stock se tornou previsível há dois meses. “Nos usados isso está a criar sérios problemas para os comerciantes de pequena e até de média dimensão. Os comerciantes de micro e pequena dimensão têm muita dificuldade em aceder ao produto mais apetecível”, avalia.

O presidente da ANECRA considera que este é um fenómeno para o qual não se vê fim à vista, porque a operação logística demorará tempo a ser retomada.

Alexandre Ferreira reconhece que há atrasos nas entregas de novos automóveis, mas diz que o problema não é transversal. Apesar de não querer falar de aumento dos preços nos usados, reconhece que há uma subida.

Carlos Maciel, gerente da Megastore, fala mesmo de uma situação inusitada para aquilo que é a realidade normal de desvalorização dos automóveis após a compra.

“Na semana passada tive uma experiência dessas, uma viatura do ano passado, que está anunciada a mais três mil euros do que ela custa nova. Era um Peugeot 107”, avança.

O mesmo vendedor acrescenta ainda que o mesmo carro usado vale hoje “mais dois mil euros do que em janeiro”.

“Uma pessoa se vir um carro novo de 30 mil euros, mas que tem dois anos de fila de espera, se calhar prefere pagar 32 ou 33 mil euros por um carro com 5 ou 6 mil quilómetros”, remata.

Fonte: Radio Renascença

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