Não há automóveis para entrega e crise pode durar um ano

Falta de semicondutores deixa fábricas ao ralenti e concessionários a braços com nova crise, sem veículos disponíveis. Marcas cortam nos opcionais e mesmo assim demoram meses a entregar carros.

O setor do comércio automóvel vive uma crise sem precedentes, provocada pela falta de semicondutores. De tal forma que, em Portugal, há marcas que só garantem a entrega de determinados modelos em 2023 e quase todas reduziram a lista de extras. Do lado dos compradores, e para agravar a situação, o mercado de usados não é solução porque a oferta também é diminuta. É uma das faces do problema da escassez de matérias-primas que está a condicionar diferentes setores no país, desde a indústria ao comércio.

Nenhuma das marcas de automóveis contactadas pelo JN arrisca um final para esta crise e apenas a SIVA (importadora do grupo Volkswagen) espera uma “melhoria na oferta de semicondutores no final do ano”, mas reconhece que “a escassez está a durar mais do que o esperado”. Garantidos estão os atrasos na entrega de carros novos aos clientes e, embora nenhuma marca concretize a dilatação dos prazos de entrega, o JN apurou que é missão quase impossível ter um automóvel novo em menos de seis meses.

As exceções são a SIVA e a Renault, que afirmam ter conseguido uma gestão de stocks que lhes permite manter os números de entregas de veículos novos. O construtor francês reconhece, no entanto, ter havido “ligeiros atrasos” em encomendas mais específicas e reduzido a lista de opcionais. A Mercedes-Benz Portugal, através de André Silveira, admite que há “uma queda acentuada das vendas no mercado português e mundial, transversal a todas as marcas. Estamos a acompanhar à semana os eventuais atrasos e a dialogar com a fábrica e com os clientes em relação a cada modelo. Toda a prioridade está a ser colocada na entrega de veículos a clientes”.

Já a BMW tem registado “um aumento geral do prazo de entregas”, que varia consoante o modelo e também se viu obrigada a reduzir a lista de opcionais.

“O BMW Group tem vindo a solicitar as quantidades de abastecimento de que precisa em tempo útil e tem estado em constante comunicação com os seus fornecedores. No entanto, as empresas nem sempre têm sido capazes de cumprir com os timings devido à situação descrita acima”, afirmou, ao JN, uma fonte oficial da marca.

Situação excecional

O Grupo Stellantis, que agrupa 10 marcas, incluindo a Peugeot, Citroën, Opel e Fiat, reconhece que a indústria está a enfrentar uma situação excecional, “com os efeitos acumulados da crise sanitária provocada pela covid-19 e a escassez mundial de semicondutores”.

Mas, para Jorge Magalhães, responsável em Portugal pela Comunicação do grupo, “apesar do esforço diário para conseguirmos responder aos clientes na melhor situação possível, podemos enfrentar tempos de entrega mais longos para alguns modelos”.

O panorama a nível mundial é sombrio, estimando-se que, este ano, deixarão de ser produzidos cerca de 7,1 milhões de veículos. Até a gigante Toyota se viu forçada a cortar a produção em 40% e a portuguesa Autoeuropa, em Palmela, teve de suspender

temporariamente a produção. A solução não é fácil, muito menos rápida, e passa pelo fabrico de semicondutores na Europa.

Duas fábricas foram recentemente inauguradas, mas, como nota Thierry Breton, comissário europeu para o Mercado Interno, até a oferta ser suficiente para a procura “estaremos a falar de um período de cerca de 18 meses, o que arrasta as expectativas para 2023.

Para obviar futuros problemas, a Renault já anunciou que passará a ser autossuficiente nesta matéria no futuro através da criação de uma fábrica própria.

Extra fora da lista

Para minimizar os danos, quase todos as marcas reduziram as listas de opcionais. A Renault, por exemplo, nalguns modelos e versões, prescinde do carregamento de telemóveis por indução. Por seu lado, a Peugeot, também nalgumas versões, deixou de lado o painel digital e voltou ao analógico.

Consolas no OLX

A indústria de consolas também passa por momentos difíceis com a falta de semicondutores. A sua escassez leva à especulação. No OLX estão à venda PS5 a custarem mais 200 a 300 euros que nas lojas.

Clássicos em exposição

Com a falta de modelos novos, alguns concessionários têm optado por expor nos stands automóveis clássicos da marca. Continuam a aceitar encomendas, mas sem conseguirem garantir prazos de entrega.

Fonte: Jornal de Notícias

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