Toyota Caetano reforça capital com japoneses no fabrico de autocarros

Toyota Caetano reforça capital com japoneses no fabrico de autocarros

Segundo o Eco a Toyota Caetano Portugal (TCP) e os japoneses do Mitsui Group avançaram com um novo aumento de capital no valor de dez milhões de euros na CaetanoBus, depois da injeção de 15 milhões de euros que os acionistas já tinham realizado no final do ano passado na empresa industrial de Vila Nova de Gaia.

Em declarações ao ECO, a maior fabricante nacional de carroçarias e autocarros justifica esta operação de capitalização, realizada no final do primeiro semestre, como um suporte ao “esforço de fundo de maneio derivado do crescimento da empresa e da aposta e investimento em novos produtos e alargamento do portfólio de soluções de mobilidade, e na extensão da rede comercial”.

“Esta é uma forte aposta da TCP e da Mitsui & Co na indústria portuguesa, a par do plano de desenvolvimento estratégico da empresa de autocarros. Esta injeção de capital permite dar continuidade ao cumprimento dos projetos de inovação em curso, na área das tecnologias zero-emissões em autocarros, e responder aos objetivos de expansão para diversas geografias e volume de unidades produzidas”, acrescenta.

“Esta injeção de capital permite dar continuidade ao cumprimento dos projetos de inovação em curso, na área das tecnologias zero-emissões em autocarros, e responder aos objetivos de expansão para diversas geografias e volume de unidades produzidas”. Grupo Salvador Caetano

O total do capital subscrito foi realizado pelos acionistas na proporção da sua participação social, não tendo havido qualquer alteração nas respetivas percentagens: TCP com 62%; e Mitsui & Co com 38%. O conglomerado japonês, sediado em Tóquio, entrou na empresa no final de 2017, através da compra de uma participação inicial de 15%, justificada na altura pela aposta na mobilidade elétrica.

Embora o início da construção de carroçarias (ainda em madeira) remonte a 1946 e pela mão do empresário Salvador Fernandes Caetano — fundador do grupo com o mesmo nome e primeiro importador da Toyota em Portugal — a CaetanoBus foi fundada em 2002. Nasceu como uma parceria com a então designada Daimler-Chrysler, tendo o grupo português ficado com 100% do negócio em 2010, quando adquiriu a quota de 26% da gigante de origem alemã.

É na empresa liderada por Patrícia Vasconcelos – substituiu Jorge Pinto há quase três anos – que fica concentrada toda a atividade industrial de fabricação de carroçarias, autocarros e miniautocarros, com diferentes especificações, destinados ao serviço de transporte urbano, turismo e aeroporto. Tem como clientes operadores de transporte espalhados por vários países e, segundo números oficiais, no final do ano passado tinha 673 trabalhadores.

Depois de fechar o ano de 2021 com 178 unidades vendidas, prepara-se para quase duplicar este número em 2022, com um total de 343 viaturas comercializadas. No entanto, diz ser “expectável que os resultados líquidos em 2022 se mantenham em terreno negativo”, sem contabilizar o volume dos prejuízos.

“Após os efeitos supervenientes da crise pandémica [chegou a ter 600 trabalhadores em lay-off], a CaetanoBus ainda não conseguiu o tão ansiado regresso à normalidade. Apesar do exercício de 2022 ter sido de crescimento, este é, contudo, insuficiente para atingir os níveis de 2019, que foi o melhor ano de sempre”. Em termos de faturação, no ano pré-Covid registou 97,5 milhões de euros e a previsão para este ano ronda os 70 milhões de euros.

A administração descreve ao ECO que este ano está ainda a ser “marcado por efeitos colaterais da guerra na Ucrânia-Rússia, a juntar aos problemas logísticos de fornecimento, à falta de componentes eletrônicos, à crise energética, à dificuldade em manter e recrutar novos quadros e à elevada tensão inflacionista”. “Todos estes fatores não estavam vertidos no nosso business plan inicial [de novembro de 2021], pelo que assistimos a uma recuperação da atividade mais lenta e com mais dificuldades do que estava inicialmente previsto”, acrescenta.

Para 2023, a CaetanoBus diz ter a expectativa de vender “acima das 500 unidades”, confiando que “o desbloqueio dos fundos europeus com vista à descarbonização das cidades europeias será uma alavanca no desenvolvimento e na promoção do negócio”. No último relatório de gestão, relativo ao primeiro semestre do ano em que os lucros da acionista principal subiram 150%, indicava uma penalização comercial por causa de “atrasos na tomada de decisões por parte de clientes e autoridades de transportes relativamente à aquisição de novos autocarros e ao lançamento de concursos nacionais e internacionais devido à indisponibilidade/atraso dos fundos europeus”.

Das 343 unidades produzidas este ano, 65 são zero-emissões. Esta é uma aposta estratégica da CaetanoBus, que está a fazer demonstrações com operadores em países como Portugal, Espanha, França, Alemanha ou Reino Unido. Este ano, por exemplo, vendeu o seu primeiro autocarro “verde” para Itália e fabricou e entregou o primeiro autocarro a hidrogénio urbano para a Austrália. O desenvolvimento do seu autocarro movido a hidrogénio (h2.CityGold) foi distinguido pela Deloitte com o prémio IRGAwards na categoria de transformação.

Para “alavancar” esta presença internacional, que se tem refletido nas vendas para a Europa e com “especial relevo” na mobilidade elétrica a hidrogénio, a empresa tem beneficiado do co-branding Toyota Caetano dos autocarros zero emissões. Anunciado em julho de 2021 como “resposta ao rápido crescimento da empresa e à restruturação da estrutura acionista”, envolveu a mudança no emblema do veículo para passar a incluir também o logótipo da marca asiática tanto no modelo 100% elétrico e.City Gold, como no H2.City Gold, movido a hidrogénio.

Novo contrato de 40 milhões com National Express

Fora de Portugal, a CaetanoBus tem duas subsidiárias, com sede na Alemanha (Cobus) e no Reino Unido (Caetano UK). A companhia germânica, instalada em Wiesbaden, fundada em 1983 e atualmente controlada pela empresa portuguesa (59%) e pela Daimler Truck AG, está especializada no desenvolvimento e fornecimento de soluções de mobilidade direcionados sobretudo para operadores de aeroportos, companhias aéreas e empresas de handling.

Com mais de 5.000 autocarros vendidos e em operação em cerca de 350 aeroportos em 100 países, está a ter uma “recuperação lenta” da atividade e continua “longe dos níveis do período pré-pandemia. No final deste ano vai registar um desvio no volume de negócios equivalente a menos 46 unidades, face ao estimado, ainda que garantido que esta perda de resultados por via das unidades vendidas será “compensada pelas economias alcançadas em outras áreas de gastos”, esperando assim uma “neutralização da perda de margem”.

Já a Caetano UK, estabelecida há quase quatro décadas, é a responsável pela operação de venda, após-venda e fornecimento de peças para os autocarros Caetano presentes no Reino Unido. É um dos principais mercados para a CaetanoBus, que fornece os conhecidos autocarros da National Express e, desde 2020, também os urbanos e.City Gold ao serviço da Transport for London, através do operador Abellio, que já opera quase 40 autocarros elétricos na capital britânica.

Entretanto, o contrato com a National Express foi renovado para o fabrico e fornecimento de até 200 autocarros de turismo entre 2022 e 2025. Lembrando que o mercado do Reino Unido é “muito relevante” desde a década de 1960, quando ganhou o primeiro contrato de fornecimento de autocarros no país, a CaetanoBus assume ao ECO que esta renovação, no montante aproximado de 40 milhões de euros, é “importante para assegurar a continuidade das operações da Caetano no Reino Unido, que soma mais de mil unidades vendidas”.

“O novo contrato com a National Express é importante para assegurar a continuidade das operações da Caetano no Reino Unido, que soma mais de 1.000 unidades vendidas”. Grupo Salvador Caetano

Quanto ao efeito direto da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), a empresa nortenha começou a senti-lo “com mais intensidade” durante este ano, com a entrada em vigor e de forma plena das novas regras alfandegárias em virtude do Brexit, o que levou a um aumento da burocracia e do tempo de trânsito na importação, seja de autocarros ou de peças de reposição para stock.

Texto original escrito pelo Eco

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