BMW CE 04. Estilo eletrizante

BMW CE 04. Estilo eletrizante

Independentemente das opiniões sobre a mobilidade ‘limpa’, a verdade é que as propostas elétricas de duas rodas tendem a multiplicar-se. No centro das grandes cidades como no catálogo das mais variadas marcas. Que, inclusive, ameaçam tudo e todos com um gama integralmente ‘zero emissões’. Mas, afinal, trata-se do futuro ou de uma moda? É que se for para ser moda que seja em grande! Com um estilo eletrizante, como esta BMW CE 04!

A moda é um conceito ‘sui generis’. Assenta na vontade de expressão singular, mas, na verdade, tem mais a ver com formas grupais de vestir, de ser ou de estar. A moda, ou pelo menos algumas modas, são estranhas e nem sempre de agrado geral. E dentro de cada moda, há sempre lugar a variações, mais ou menos convencionais e consensuais, mais ou menos radicais ou extremistas. Na moda das duas rodas elétricas há algumas propostas que se destacam pelos atributos técnicos, pela autonomia ou pelas performances. Outras destacam-se pela ousadia estética, pelo desejo de rotura com o ‘establishment’ ou pela inovação. E há quem junte toda a irreverência num só modelo. Foi o que fez a BMW com a CE 04!

O ponto de partida baseou-se não nos conceitos contemporâneos de duas rodas, antes procurando responder às funcionalidades, arquitetura técnica e realidade digital dos utilizadores atuais. Afinal, um novo entendimento da mobilidade urbana, focado no utilizador e nas suas necessidades de deslocação

Irreverente minimalismo

A estética é verdadeiramente irreverente, incapaz de passar despercebida em qualquer ambiente. As linhas baixas e alongadas derivam diretamente e sem grandes alterações da primeira proposta conceptual apresentada pela casa germânica. Chamava-se Link e foi vista pela primeira vez no Concorso d’Eleganza Villa d’Este em 2017, na margem ocidental do Lago Como, no norte de Itália. Evoluiu depois para o Concept Definition CE 04, revelado no final de 2020 já com sinais de identidade germânica de scooter (família C), elétrico (E) e do local dentro da gama (04). De então para cá, a única coisa que realmente mudou foi o nome. Ficou conhecida simplesmente como BMW CE 04, mas manteve tudo o resto. Como as linhas diagonais, desafiantes, criam maior complexidade na seção frontal, aligeirando ao longo da scooter até uma traseira minimalista.

Rompendo com os traços mais tradicionais da C evolution, a BMW CE 04 revela a exaltação do design industrial, de um minimalismo cativante. Onde a função ganha espaço sobre a forma, ditando os traços e volumes desta. O banco é plano para que condutor e passageiro possam viajar verdadeiramente sentados. Como se uma cadeira se tratasse. E, assim, não de pode estranhar o formato plano, quase como uma prancha de skate.

A comparação ganha mais sentido quando nos sentamos, confirmando aquilo que o aspeto anuncia. Parece uma tábua e é duro como uma. Bonito, sim, mas duro! Mas, surpreendentemente, oferece um nível de conforto inesperado. Graças a uma boa posição ergonómica, superfície razoavelmente larga para os dois ocupantes e, não menos importante, devido a uma suspensão que desempenha o seu trabalho na perfeição. E, assim, faz esquecer a dureza em favor não só de inusitado conforto como de uma eficácia de elevado nível.

Conforto inesperado

Bem-estar a bordo pouco esperado, à partida, e que surpreende condutores de todos os tamanhos. Espaço para as pernas é algo que não falta, sendo fácil encontrar uma posição de condução com o tronco direito. Conforto, boa visibilidade e agradável proteção aerodinâmica ao peito e ombros, deixando apenas exposto parte do capacete. Claro que, perante um ecrã estilizado, praticamente plano e sem apêndices que alterem o fluxo de ar, os condutores mais altos poderão ter que enrolar um pouco o tronco, sobretudo em velocidades de autoestrada.

Curiosamente, e apesar de parecer que está lá apenas por uma questão de homologação, o banco do passageiro cumpre bem a função. É curto, sobretudo comparando com o espaço do condutor, dimensão que é compensada pela largura. E pela boa posição dos poisa-pés que quase faz esquecer a ausência de pegas para as mãos. Bem, na verdade elas estão lá, escondidas debaixo do banco, em forma pequenas concavidades para os dedos. Para quem tiver os braços compridos.

Mais seguro está o condutor, bem agarrado ao guiador, a uma distância acertada, e com possibilidade de optar por duas posições para os pés. Ora com as pernas mais relaxadas, lançadas para diante, ora em posição mais direita, para melhor controlo urbano. Boa vida a bordo que é reforçada pelo painel ‘cinematográfico’, com 10,25 polegadas de diagonal e uma legibilidade excelente, tanto à noite como debaixo de sol intenso.

Também os comandos da BMW CE 04 são reveladores da filiação germânica, supercompletos e com o Multi-Controller. Aquela rodinha junto ao punho esquerdo que permite controlo absoluto de todas as funções sem retirar a mão do guiador. Nota ainda para pormenores que são mais-valias estéticas e de perceção de qualidade, como o nome gravado na parte dianteira do banco, ou os contrastes em cores modernas na decoração.

Mais comprida que a K1600 GT!

A partir dos comandos que fazem recordar as BMW de motor térmico, é possível escolher entre os vários modos de motor, optar pela banda sonora favorita, receber ou fazer uma chamada e, claro, navegar até ao próximo encontro. Tudo através da avançada conetividade que disponibiliza ainda a chamada de emergência inteligente (ECall), ligada 24/24 e que é de extrema utilidade em caso de acidente ou outros problemas. Além da conexão dos opcionais como os punhos ou o banco aquecidos.

Existe ainda, do lado esquerdo, um botão assinalado com o um visível R que é, nem mais nem menos, do que a marcha-atrás. Que funciona pressionando o botão e acelerando em simultâneo, ajudando a esquecer os 231 kg anunciados pela marca. Verdadeiro peso-pesado, idêntico ao medido na BMW F850 GS, num perfil ‘camionesco’ com distância entre eixos de 1675 mm. Maior do que na enorme K1600 GT (1618 mm) e apenas a dois centímetros da gigantesca BMW R18!!!

Ainda assim, a BMW CE 04 revelou-se muito fácil de conduzir, dona de uma estabilidade a toda a prova e apenas limitada no ‘tricotar’ urbano. Em autoestrada, a curvar na velocidade máxima (120 km/h limitada eletronicamente), a sensação de segurança é absoluta e não se sente qualquer vibração. Para isso contribui, de forma decisiva, o conjunto de baterias que serve de plataforma, colocadas horizontalmente em posição muito baixa.

O peso, elevado, está sempre omnipresente, mesmo que, em andamento, seja muito bem disfarçado pelo centro de gravidade bastante baixo. Os quilos fazem sentir-se sobretudo a curvar, a partir de um certo ângulo a dianteira revela tendência a ‘cair’ para o interior da curva, bem como na hora de manobra ou de colocar no descanso central.

Pilhas de tecnologia

O esforço será bem recompensado pelo aspeto futurista do veículo aparcado em frente a uma qualquer esplanada, detonador de muitas atenções. Que não pararão de mirar o recém-chegado alienígena enquanto este guarda o capacete no espaço, amplo e iluminado, por baixo do banco, mas de abertura lateral. Ou enquanto retira o telemóvel do espaço existente no lado esquerdo do painel frontal. Que é ventilado, para evitar o sobreaquecimento do aparelho em carga, tem tomada UBS-C e fecho eletrónico. Com tanta tecnologia, é claro que a BMW CE 04 está equipado com sistema ‘keyless’, de chave inteligente que funciona à distância. E por isso, estando por perto, basta pressionar o botão para trancar a direção ou ligar a moto. Que, no entanto, só arranca depois de apertar o start com a manete de travão pressionada.

Sentados na esplanada, rodeado de olhares entre o curioso e o sarcástico, tempo para refletir sobre a tecnologia embarcada. Aproveitando a experiência recolhida na gama de automóveis ‘i’ a BMW criou um conjunto adaptado às necessidades das duas rodas em ambiente urbano. As 40 células de bateria de iões de lítio possuem uma capacidade de 60,6 Ah (8,9 kWh) e oferecem uma potência nominal de 15 kW (20 cv) e máxima de 31 kW, ou seja, 42 cavalos. E um binário de 62 Nm disponível desde o ‘momento zero’ até às 4900 rotações por minuto que este motor síncrono atinge. No catálogo existe versão de 11 kW (15 cv), à medida dos utilizadores com carta A1.

Requinte de série. Luxo opcional

Aqui chegados, importa referir os valores de autonomia e tempo de carga dados pela marca e os aferidos em utilização diária. Pois bem, a BMW afirma que é possível fazer 130 km com as baterias carregadas e talvez seja! Mas a verdade é que esse desiderato só é atingido em condições muito especiais, nomeadamente rodando nos modos mais conservadores (Eco ou Rain) e sem grandes acelerações. É que, em condições normais, nunca conseguimos chegar aos 100 km! O que, apesar de tudo, está longe de ser um mau resultado. Afinal foi conseguido sem qualquer limitação no punho direito e quase sempre em modo Dynamic.

As acelerações são simplesmente brutais. Sobretudo neste modo que está incluído no opcional pack Dynamic, juntamente com o DTC, ABS Pro, DRL e luzes adaptativas em curva. As diferenças entre os modos são particularmente notórias, da suavidade extrema no Rain à serenidade do Road, indicado para rolar tranquilamente e por mais tempo em estrada aberta. Pelo meio, o Eco mostrou-se bastante adequado ao uso urbano, e no extremo, o Dynamic que, como o nome indica, é mais agressivo, nas acelerações como nas reduções. E ao cortar gás, nota-se particularmente o efeito de travão motor que ajuda a recarregar as baterias.

Carga rápida ou assim-assim

Sistema que melhora ligeiramente a autonomia, mas não impede as paragens para o carregamento. Cujo tempo total de carga, a partir do vazio total, ficou, por duas vezes, ligeiramente abaixo das 4 horas e 20 mn anunciadas pela BMW. Claro que evitando deixar o depósito ‘seco’, é possível resultados bem interessantes, como a hora e meia para chegar dos 20 aos 80%. E assim fazer, sem problemas, cerca de 50 a 60 km!

Valores medidos com o sistema de carga incorporado, para tomadas domésticas e postos de carregamento público enquanto, com um carregador rápido (opcional), com saída de 6,9 kW face aos 2,3 kW do ‘normal’, o tempo para carga total pode baixar até 1 h 40 mn.

Detalhes técnicos particularmente no momento da opção que passam para segundo plano quando surge a indicação Ready, em verde, no generoso painel de instrumentos TFT. Sinal que tudo está pronto para rodar.

O motor, colocado junto às baterias e mesmo antes da roda posterior, transmite a potência de forma instantânea através de uma correia dentada e o único ruído que se ouve é um silvo. Tanto mais agudo quanto mais acelera. A suavidade de funcionamento é enorme, ajudada pela correia de borracha que assegura a transmissão, e as acelerações brutais. Dos 0 os 100 km/h são apenas 9,1 segundos. Mais relevante, é que num semáforo, nenhum carro ou moto, por mais potente que seja, conseguirá arrancar à frente. Afinal, gasta 2,6 s. a atingir os 50 km/h. Depois, chega rapidamente aos 100 km/h e não para até aos 129 km/h no velocímetro, equivalente aos 120 km/h reais, devido à limitação eletrónica. Que garante que não ficamos apeados no caminho, longe do nosso destino, ou que somos multados por excesso de velocidade… em autoestrada.

Segurança até ao limite… de velocidade

Velocidade que é atingida, já o dissemos, em total segurança e sem darmos por ela. É que a estrutura tubular que serve de quadro, ligando a caixa das baterias e os outros componentes da ciclística, é extremamente rígida. E o sistema de amortecimento, com forqueta invertida de 35 mm e monoamortecedor ajustável em pré-carga, tem tanto de simples quanto de eficiente. E as rodas, de 15 polegadas de diâmetro, equipadas com generosas e desportivas borrachas (120/70 e 160/60) Pirelli Diablo Rosso, são garante de facilidade e eficácia. Em aceleração como em travagem, onde o conjunto oriundo do grupo Brembo (pinças radiais J.Juan de 4 pistões, reservatórios e tubagens ByBre) revelou grande eficácia. Bastante potência oferecida pelos dois discos dianteiros de 265 mm de diâmetro, num comportamento que, no entanto, peca pela dureza e pouca progressividade.

Em termos de segurança eletrónica, o ABS e o controlo de tração ASC são equipamento de série e o ABS Pro e o DTC (Dynamic Traction Control), disponíveis no pack Dynamic reforçam a eficácia e segurança, nomeadamente em curva. O mesmo sucede com a iluminação LED que assim ganha função adaptativa, aumentando luminosidade no interior da curva.

Estilo justifica o preço?

Dona e senhora de um estilo único, com uma irreverência estética que não deixa ninguém indiferente, a BMW CE 04 é daquelas máquinas que se adora ou se detesta. Não há, nesse capítulo, um meio termo. Maior unanimidade gera a qualidade construtiva, o surpreendente conforto a bordo, com boa proteção para condutor e passageiro, ou a excelência da dotação eletrónica. Dos modos de motor ao controlo de tração, dos intermitentes auto canceláveis ao banco e punhos aquecidos. Do sistema de carregamento rápido aos regeneradores de energia ou à conectividade.

Aqui chegados, procuramos a resposta para a única questão em aberto. Será que o pioneirismo, a inovação estética e tecnológica, e a diferenciação da BMW CE 04 ‘valem’ investimento de 13.250 euros? A resposta fica a cargo de cada interessado…

Texto original escrito pelo site Motox.pt

#anecrarevista #anecra #aftermarket #atualidade #duasrodas #bmw