Setor automóvel em mudança com a necessidade da descarbonização

Setor automóvel em mudança com a necessidade da descarbonização

Leia aqui a entrevista que Alexandre Ferreira, Presidente da ANECRA (Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel), deu ao Diário de Coimbra, onde falou dos grandes desafios que o setor automóvel atravessa.

Diário de Coimbra A ANECRA representa as empresas de comercialização e reparação automóvel. Que desafios enfrenta hoje o setor?

Alexandre Ferreira O setor automóvel vive atualmente, a nível mundial, um momento absolutamente ímpar na sua história, com vários processos em curso, todos eles com um forte caráter disruptivo, com uma determinante preocupação ambiental, paradigma que precede e orienta hoje, quase todas as decisões que se tomam aos mais diversos níveis.

Tendo por base o cenário referido, é minha convicção, que nos próximos cinco ou seis anos, o mercado irá assistir a mais alterações, que aquelas que ocorreram nas últimas décadas. Desde logo, a decisão política sobre a eletrificação do novo mercado automóvel, processo incontornável e necessário para o cumprimento dos objetivos ambientais, surgindo recentemente uma nova sensibilidade sobre a solução, procedente de diversos países e nas mais altas instâncias políticas, afirmando a necessidade e a importância de serem consideradas alternativas válidas à eletrificação.

Que alternativas se propõem?

Este novo estado de consciência leva-nos a acreditar que é possível a descarbonização do setor automóvel, através de uma transição equilibrada para uma mobilidade sustentável, se forem colocados como vetores energéticos essenciais, os Combustíveis de Baixo Carbono (CBC), a par da eletricidade e do hidrogénio. A este propósito não posso deixar de manifestar o orgulho pessoal pelo facto da ANECRA ter sido um dos membros fundadores do movimento que deu Lugar à “Plataforma para a Promoção dos Combustíveis de Baixo Carbono”, movimento este que tem como objetivo a sensibilização dos principais players do mercado, e principalmente o Governo que é parte determinante para viabilizar e garantir uma descarbonização sustentável nos seus três pilares: Segurança do Sistema Energético, Ambiental e Social. De igual forma, assistimos todos os dias a uma verdadeira revolução em toda a cadeia de valor do setor automóvel, que vai desde os fabricantes automóveis aos consumidores, dos processos de produção aos modelos de comercialização e dos produtos produzidos à tipologia do cliente final.

Quer dizer que se caminha para um novo modelo de negócio automóvel mundial?

Sem dúvida, estamos no advento desse novo ciclo. Em paralelo, continuam em marcha um conjunto de ações emergentes e inadiáveis que irão contribuir, e muito, para a referida disrupção do setor. São os casos da digitalização das viaturas e do próprio modelo de negócio, das viaturas autónomas, das viaturas comunicantes, dos novos conceitos de mobilidade e dos novos hábitos de consumo, do aparecimento de novos e grandes operadores de mobilidade e não menos importante, o processo em curso de absoluto corte com o modelo de distribuição e da relação entre os OEM e os retalhistas.

Apesar das mudanças, continua a ser um setor muito representativo na economia do país? Quanto vale este setor? Quantos trabalhadores emprega?

No que concerne ao seu papel e dimensão na Economia do país, nomeadamente em sede de receita fiscal, o setor Automóvel é, desde há bastantes anos, o setor que mais contribui para a receita fiscal do Estado: Atualmente, o setor Automóvel contribui com cerca de 20% do total das receitas Fiscais do Orçamento de Estado (IUC, ISV, ISP, IVA). Segundo publicação de “BPstat” do Banco de Portugal, havia em 2021, mais de 17.000 em[1]presas no setor, com um volume de negócios superior a 26.700 milhões de euros, empregando mais de 125.000 pessoas.

Quais são as maiores dificuldades dos empresários do setor?

As dificuldades que se apresentam aos empresários do setor estão implícitas nos múltiplos desafios que os mesmos enfrentam e quer anteriormente referimos. Contudo, poderemos salientar uma preocupação que de forma transversal afeta as empresas e os empresários, não só a nível nacional, mas também a nível europeu, que consiste na falta de mão de obra qualificada no mercado de trabalho. E esta também é preocupação da ANECRA, na medida em que é Entidade Formadora Certificada e um dos outorgantes Centro de Formação Profissional da Reparação Automóvel, o que aumenta a nossa responsabilidade nesta área, certos de que a contribuição dada nos últimos anos, ajudou a minorar carências há muito detetadas. No atual contexto, é necessário e incontornável, no nosso ponto de vista, que o setor automóvel se torne apetecível nas diversas vertentes para os jovens que estejam a iniciar a sua carreira profissional, retirando à partida a imagem de que este é o setor de mecânicos e bate-chapas, pois, tal realidade foi completamente ultrapassada pelo nível tecnológico do serviço e do produto automóvel, sendo por hoje, exigida qualificação e competência aos seus profissionais, que perspetivando o futuro desta atividade, só os melhores a poderão atingir.

Que desafios enfrentam, tendo em conta que com a crise atual, poderá haver uma maior procura na economia paralela?

A economia paralela tem sido um tema particularmente sensível para o segmento do comércio e da reparação automóvel, tendo ganho nos últimos anos particular relevância constituindo-se como um dos principais constrangimentos ao normal e regular funcionamento do mercado. A ANECRA sempre se tem batido, ao longo da sua história, pela denúncia dos operadores que se mantêm à margem da Lei, sem condições mínimas exigidas para a normal execução da atividade, tal como preconizado pelos melhores profissionais e pela Lei existente para o setor.

O que fazer?

A ANECRA sustenta que se deve continuar a melhorar e reforçar todos os meios existentes para o combate a esta atividade, e estudar novas formas mais eficazes de lidar com esta situação, tanto na prevenção, como na intervenção ”in loco”, de modo a dissuadir (e erradicar, sempre que possível) esta prática.

Na área da comercialização, quais são as tendências? Há, de facto, mais procura por híbridos ou elétricos?

Considerando os vários fatores que condicionam a oferta e a procura na atual realidade do setor automóvel, foram matriculadas, em janeiro, 14.639 viaturas novas, ligeiros de passageiros, o que correspondeu a menos 7,3% que em 2019 e comparativa[1]mente com 2022 um aumento de 48,4%. Verificamos a tendência de crescimento das energias alternativas, que no total já se situam em 47,8% das matrículas no período, distribuídas da seguinte forma: PHEV (elétrico híbrido plugin) 10,8% / HEV (híbrido) 16,6% / Elétricos (PEV) 15,4% / e outros 5%. Quanto aos veículos equipados com motor térmico foram matriculados 52,2% do número total 35,7% gasolina / 16,5% gasóleo respetivamente.

Texto original escrito pelo Diário de Coimbra

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