Ducati 851. Dia D !

Ducati 851. Dia D !

O momento mais relevante da história desportiva da Ducati aconteceu no dia em decidiram criar a 851, dando início a um conceito que se impôs nas três décadas seguintes.

Em 1985 a base mecânica da Ducati Pantah estava esgotada, com o seu V2 de duas válvulas refrigerado a ar no limite do desenvolvimento, enquanto as concorrentes japonesas começavam a despertar para o potencial mecânico das suas 4 cilindros, em diferentes configurações. Em 1986 a Ducati decide reinventar o seu motor, mantém a configuração em V a 90º e a distribuição desmodrómica mas passa agora a ter 851 cc de capacidade, refrigeração líquida, quatro válvulas por cilindro e injeção eletrónica. O protótipo da 851 fez a sua estreia em 1987, em Daytona, na classe Pro Twins, e Marco Luchinelli assinalou da melhor forma o momento, vencendo a prova.

Nesse ano a Ducati começa a produzir a 851 Strada, que rapidamente foi revista ciclisticamente e melhorada no seu rendimento para se transformar numa opção distinta e competitiva, tanto para estrada como para pista. Em 1988 a Ducati produz quinhentas unidades do modelo, sendo duzentas destinadas à competição. Marco Luchinelli mostrou que a aposta era válida e em Donington, na primeira prova do mundial de SBK, ficou em segundo na primeira manga atrás da Bimota de David Tardozzi e venceu a segunda, à frente da RC 30 com que Fred Merkel viria a sagrar-se campeão do mundo nesse ano.

Em 1989 é lançada a versão 851 Superbike, que de alguma forma reflete já a aposta desportiva da marca. É distinta ciclisticamente da primeira versão Strada, montando já uma roda de 17” na frente, e amplifica a sua performance na travagem ao optar por discos Brembo de 320 mm. O quadro treliça é igual e mantém o braço oscilante em alumínio. Nas jantes verifica-se uma poupança nos custos, sendo as Marvic em magnésio substituídas por jantes Brembo de três braços em alumínio. No motor a evolução continua, algo que se verificará todos os anos, ao longo de uma vintena de modelos e especificações.

Massimo Bordi estava apostado em transformar este bicilíndrico numa arma poderosa e a escolha da injeção Weber Marelli foi uma ajuda preciosa. Utilizando os desenvolvimentos realizados pelo fornecedor na F1, dotou a 851 de um sistema computorizado de injeção capaz de fazer a diferença na época. O diâmetro de 92 mm dos pistões, associado a um curso reduzido de 64 mm, permitia válvulas generosas e a precisão do sistema Desmo levava-o a subir sem problemas até às 11.000 rpm, com um binário invejável desde as 5.000 rpm.

A 851 Superbike a que tivemos acesso já tem 29 anos mas parece que saiu agora da fábrica apesar de ter mais de 42.000 quilómetros cumpridos. A posição de condução é desportiva mas sem exageros, o mesmo é dizer que os braços estão afundados o suficiente para não precisarmos de forçar o corpo e as pernas fletidas que baste para acompanhar a postura. O depósito é visualmente generoso mas envolvemo-lo sem que o sintamos, apesar da sua construção em alumínio nos obrigar mentalmente a um maior respeito. Curiosamente, o Albino Pinho não sabe porque é que foi brindado com este luxo já que neste material estava apenas disponível para as versões SP.

Os primeiros momentos com o motor a trabalhar são tão distintos quanto familiares, a subida de rotação é alegre e, quando se solta o acelerador, o chacoalhar característico da embraiagem a seco acompanha a descida de rotação. Em estrada a leveza é a nota dominante. O motor sobe de rotação sem inércia, emoldurado pelos diferentes sons que o acompanham, e as suspensões trabalham bem. Não há birras, personalidades ou segredos, o conjunto deixa-se levar entre curvas e molda-se ao nosso gosto. Excelente e reconhecível o comportamento da travagem Brembo, perfeitamente atual em potência e progressividade, o que está na origem e melhor permite compreender o espanto que causou na sua época. É fácil perceber porque nos apaixonamos pela sua condução, e esteticamente transporta-nos para um momento histórico rico e distinto.

A Ducati nunca fez milhares de motos de cada versão, mas fez dezenas de versões de cada modelo. A seguir a esta “Superbike” fizeram a SP2 e no ano seguinte a SP3. Surgiu depois a 888, que teve direito também a várias evoluções. O segredo reside nos detalhes, tão pequenos quanto preciosos para quem as possui. Em 1989 custava cerca de 2400 contos, qualquer coisa como 32.700 € atualmente, depois de feita a correção à inflação. Em parte por isso foram motos bem conservadas pelos seus proprietários, e há bastantes unidades à venda de cada versão. Um exemplar em excelente estado consegue-se encontrar sem dificuldade por menos de 10.000 €, sendo um valor seguro.

Proprietário da moto

O Albino Pinho sempre gostou de motos diferentes, possuindo entre outras uma Norton Manx 500, uma Harley WL 750 e uma R 80 GS ’85. O encanto pela Ducati deu-se assim que visitou o museu da marca, em Bolonha, afirmando convictamente que nunca viu tanta beleza junta! Reconhece que a mecânica obriga a particular atenção, mas é com prazer que lha dedica para poder usufruir da forma distinta como convive com a estrada.

Ficha Técnica

  • Ducati 851 Superbike
  • Preço:
  • Caraterísticas
  • Motor
  • Tipo: 4T, 2 cilindros em V, refrigeração líquida
  • Distribuição: Desmodrómica, 4 válvulas p/cilindro
  • Cilindrada: 851 cc
  • Diâmetro x curso: 92 x 64 mm
  • Potência declarada: 104,6 cv às 9.000 rpm
  • Binário declarado: 8,9 Nm às 8.000 rpm
  • Alimentação: Injeção eletrónica Weber-Marelli
  • Arranque: Elétrico
  • Embraiagem: Multidisco a seco
  • Caixa: Seis velocidades
  • Ciclística
  • Quadro: Treliça em tubo de aço
  • Suspensão dianteira: Forquilha telescópica Marzocchi M1Rcom 42 mm de diâmetro ajustável em pré carga, compressão e extensão
  • Suspensão traseira: Monoamortecedor Marzocchi a gaz com 95 mm de curso, ajustável em pré carga, compressão e extensão
  • Travão dianteiro: Dois discos flutuantes de 320 mm, assistidos por pinças Brembo P4
  • Travão traseiro: Disco de 245 mm, com pinça Brembo P2
  • Roda dianteira: 120/70-17’’
  • Roda traseira: 180/55-17’’
  • Peso e dimensões
  • Distância entre eixos: 1.430 mm
  • Altura do assento: 800 mm
  • Capacidade do depósito: 20 L
  • Peso a seco: 180 kg
Texto original escrito pelo site Motox.pt

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