Suzuki GSX-8S. Em busca da essência

Suzuki GSX-8S. Em busca da essênciaUma ‘naked’ é muito mais que uma moto sem carenagens. Na realidade, é uma moto despida, sim, mas de preconceitos e de tudo o que possa limitar o simples prazer da condução. A Suzuki GSX-8S é uma espécie de regresso às origens, sem adições que tenham o propósito de evocar ambientes, tão artificiais muitas das vezes quanto irreais.

Texto: Alberto Pires

Fotos: Rui Jorge

Antes de tudo, sublinhar que o conceito na origem desta nova GSX-8S, expresso pela Suzuki através da frase ‘Forma e função para uma nova era’, foi cumprido na perfeição.

Esteticamente traz-nos à memória a Suzuki Katana 1100, criada em 1981 pelo estúdio alemão Target Design, liderado por Hans Muth. Nesse sentido, as formas vincadas dos elementos que lhe conferem personalidade são acentuadas pela colocação em segundo plano dos restantes componentes pintados a preto, contribuindo também para reduzir a sensação de volume do conjunto. Não deixam, contudo, de participar no design final, sendo evidente o cuidado estilístico colocado no depósito, radiador, guarda lamas, braço oscilante e terminal do escape.

Suzuki GSX-8SDa mesma forma, os dois faróis hexagonais em LED e as luzes de presença reforçam as formas da dianteira, estando a luz traseira embutida no guarda lamas, libertando o formato do banco dessa função. Por outro lado, o painel de instrumentos tem 12,7 cm, duas configurações cromáticas para as informações principais e usa as laterais para as luzes indicadoras. É completo e dá a primazia à indicação da velocidade engrenada. Não tem nada a envolvê-lo pois o que ofereceria em proteção aerodinâmica não compensaria esteticamente. Das três cores disponíveis, Metallic Mat Black, Pearl Tech White e Pearl Cosmic Blue, é esta última que, na minha opinião, melhor evidencia a personalidade do modelo.

Diversão em altas

Ciclisticamente não houve lugar a economias de escala nesta GSX-8S. Assim, o quadro é novo, simples na forma como suporta o motor e de grande robustez na zona da coluna de direção. Similarmente, o braço oscilante, em alumínio, aproveita as nervuras do seu desenho para reforçar a sua resistência, transmitindo o conjunto uma imagem de grande solidez. Quanto à suspensão dianteira está entregue a uma forquilha invertida Kayaba com 43 mm de diâmetro e 130 mm de curso, e a um amortecedor da mesma marca na traseira. Porém, nenhuma das unidades oferece a possibilidade de ajuste na compressão ou extensão, sendo apenas possível ajustar a pré-carga da mola na traseira.

Por outro lado, os travões estão num patamar superior, dispondo na frente de dois discos flutuantes de 310 mm assistidos por pinças Nissin de quatro pistões, montadas radialmente. Entretanto, na traseira, existe um disco de 240 mm com pinça de um pistão. Enquanto isso, as jantes de dez braços inclinados são muito desportivas e rematam de forma brilhante o espírito irreverente do conjunto.

O motor desta Suzuki GSX-8S é novo. Com efeito, trata-se de um bicilíndrico paralelo com 776 cc, com quatro válvulas por cilindro, 83 cv às 8500 rpm e 78 Nm às 6.800 rpm, iniciando-se a zona vermelha do conta rotações nas 9.750 rpm. Com estes números é seguramente divertido em altas mas, sobretudo, cheio em médias. Esta disponibilidade é garantidamente reforçada pela ordem de ignição a 270º. Desse modo, ao aproximar as explosões nos cilindros e aumentar o seu tempo de descanso no restante ciclo, garante mais ‘corpo’ na aceleração e tração na roda motriz. As vibrações inerentes a esta configuração foram eliminadas através da adopção de dois eixos de contra balanço.

Controlo (eletrónico…) de emoções

A embraiagem inclui um tradicional e bem testado sistema mecânico deslizante por rampas, que reforça a transferência da força à embraiagem em aceleração e, no movimento contrário, liberta-a nas reduções exageradas. A intervenção da eletrónica é bastante abrangente, usando uma linha CAN bus para simplificar todas as ligações. Os dois corpos de injeção com 42 mm de diâmetro são solicitados de forma diferente pelo acelerador Ride-by-Wire através dos três modos de condução, A (Active), B (Basic) e C (Comfort). No limite, a potência máxima é sempre atingida, mas é diferente o modo como surge. Ou seja, o modo A é o mais cru, o B adequa-se a uma utilização mais turística e o C tem uma ação mais relaxada, ou segura, se o piso estiver molhado.

O sistema SIRS ( Suzuki Intelligent Ride System ) consiste na integração e gestão através de uma centralina das informações provenientes da posição do acelerador, caixa de velocidades, rotação do motor e velocidade de cada uma das rodas.

O controlo de tração conta também com três níveis de ação, 1, 2 e 3, atuando em função da diferença de rotação entre as rodas, regime do motor, posição do acelerador e velocidade engrenada. Quanto mais elevado o número mais interveniente é, mas pode ser desligado. Além disso, esta Suzuki GSX-8S incorpora também um sistema Quick Shift, bidirecional, que pode ser desligado. A travagem conta com sistema ABS, no entanto não é ajustável nem desconectável.

O primeiro contacto revelou-se uma surpresa muito agradável. Estava curioso relativamente à eficácia da solução desenvolvida para anular as vibrações necessariamente provocadas pelo desfasamento da ignição a 270º, e é um facto que não existem, ou são negligenciáveis. Além disso, o carácter próprio desta configuração torna mais viril o seu funcionamento, e isso sente-se, sem que tenhamos que pagar o preço habitual.

No meio está a virtude

Iniciámos nos modos intermédios, condução B e controlo de tração 2, opção que os responsáveis pela Moteo Portugal consideraram adequados para o início das hostilidades. Julgo que acertaram. Principalmente porque o troço de estrada inicial era abrangente no diz respeito à exigência em curva e com retas de ligação suficientes para estabelecermos as referências de funcionamento. É num instante que percebemos que esta não é uma 650, tem mais ‘chicha’ desce cedo, e está bem temperada. Mesmo a trocar de caixa antes das 6.000 rpm, ou seja, ligeiramente abaixo da rotação a que se atinge o binário máximo, já sentimos energia mais do suficiente para nos divertirmos, com avisos que a experiência identifica como sendo o momento de fazer uma pausa na progressão até termos a certeza do que temos em mãos.

Suzuki GSX-8SA legibilidade do painel é boa, a posição de condução adequa-se a vários estados de espírito, os espelhos não vibram e têm o formato correto, ou seja, são largos no exterior. Sem ser desconfortável, há alguma firmeza nas reações, notando-se as imperfeições do piso. É o preço a pagar pelo rigor da direção em zonas sinuosas e pela compostura geral quando nos começamos a emocionar.

A’s de Animação Acrescida

A meio do percurso troquei para o modo de condução A, sem filtros, e para o controlo de tração na posição 1, o menos interventivo, e a transformação foi enorme. À saída das curvas, sejam lentas ou rápidas, é de uma vivacidade que nos aconselha de imediato a não optar por desligar o controlo de tração já que, em vários momentos, agradecemos a sua presença, bem dissimulada mas atenta. É um pouco como passear um cão com vontade de gastar energias, sempre a rebocar-nos pela trela! A contribuição do Quick Shifter bidirecional torna também tudo mais instantâneo, sendo as reduções acomodadas por uma embraiagem deslizante, que impede o bloquear e consequente saltitar da roda traseira quando nos excedemos. Para uma condução mais relaxada, sem deixar de ser animada, é preferível a configuração inicial.

Pela enorme variedade de estradas por onde passámos comprovou-se que a opção de não dotar as suspensões de ajuste – para além da pré-carga da mola traseira – não significa menor capacidade ciclística. Até porque a afinação proposta e a amplitude de funcionamento é suficiente para todas as situações vividas, e em momento algum senti limitações possíveis de serem ultrapassadas com outra configuração. A travagem revelou-se excelente, potente e doseável. O ABS, apesar de não ser desconectável, só se sente se o forçarmos, garantindo a devida assistência em condições delicadas sem inibir uma condução desportiva.

A proteção aerodinâmica é razoável dentro do género ‘naked’, as pernas e tronco acabam por estar protegidos pelas formas do conjunto, e os poisa pés só arrastam se quisermos provocar os Dunlop RoadSport2, e não é à primeira!

Viajante disfarçada

Ao longo do teste o consumo médio, numa utilização que não foi poupada, ficou-se pelos 4,4 litros. Os 14 litros do depósito de combustível permitem assim uma tranquila autonomia, quase turística.

Também a lista de acessórios para a Suzuki GSX-8S é razoável. Naturalmente são em maior número os destinados à afirmação estilística, mas também há elementos dedicados à proteção, tanto da pintura como em caso de queda. Para amplificar a sua utilidade estão disponíveis soft cases expansíveis, tanto para o depósito como para as laterais.

Quanto ao preço, 8.999 €, é ajustado para o nível de equipamento de que dispõe.

Por tudo isto, esta GSX-8S é uma Naked que encontrará seguramente uma lugar de relevo no mercado nacional!

Ficha Técnica

Suzuki GSX-8S

  • Características
  • Motor
  • Tipo: 4T, dois cilindros em paralelo, refrigeração líquida
  • Distribuição: DOHC, 4 válvulas p/cilindro
  • Cilindrada: 776 cc
  • Diâmetro x curso: 80 x 49,7 mm
  • Potência declarada: 83 cv às 8.500 rpm
  • Binário declarado: 78 Nm 6.800 rpm
  • Alimentação: Injecção electrónica
  • Arranque: Eléctrico
  • Embraiagem: Em banho de óleo
  • Caixa: Seis velocidades
  • Ciclística
  • Quadro: Em aço
  • Suspensão dianteira: Forquilha invertida KYB com 43 mm de diâmetro e com 130 mm de curso
  • Suspensão traseira: Monoamortecedor KYB regulável na pré carga da mola
  • Travão dianteiro: Dois discos de 310 mm, pinças radiais de quatro pistões Nissin, ABS
  • Travão traseiro: Disco de 240 mm, com pinça de pistão simples
  • Roda dianteira: 120/70-17’’
  • Roda traseira: 180/55-17’’
  • Peso e dimensões
  • Distância entre eixos: 1465mm
  • Altura do assento: 810 mm
  • Capacidade do depósito: 14 L
  • Peso em ordem de marcha: 202 kg

Texto original escrito pelo site www.motox.pt

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