Fraude da quilometragem: portugueses pagam milhões em veículos adulterados
A manipulação da quilometragem em veículos usados é um problema grave que afeta não só os bolsos dos consumidores, mas também as economias nacionais, gerando perdas anuais avultadas. Um estudo recente da carVertical revela que os portugueses pagam, em média, 18,1% a mais por carros com quilometragem adulterada, o que se traduz num prejuízo de 71,2 milhões de euros para a economia portuguesa anualmente.
Este fenómeno, embora se manifeste em toda a Europa, tem um impacto financeiro particularmente significativo nos países da Europa Ocidental.
O custo oculto para os consumidores e a economia
A fraude da quilometragem vai além do valor pago a mais por um carro. Imagine um veículo anunciado a 10.000 € com a quilometragem falsificada. O seu valor real pode ser de apenas 8.200 €, significando um prejuízo de 1.800 € para o comprador. Quanto mais caro o carro, maior a fatura, podendo chegar a dezenas de milhares de euros em veículos de luxo.
Matas Buzelis, especialista da carVertical, alerta que "as pessoas preferem carros com pouca quilometragem, o que as leva a priorizar esse tipo de veículos. Contudo, muitos deles têm o conta-quilómetros adulterado. A manipulação da quilometragem dá uma falsa imagem das reais condições do veículo." Esta prática desonesta não distingue modelos, afetando desde os mais económicos aos mais luxuosos.
Um problema europeu com prejuízos bilionários
O impacto da manipulação da quilometragem é sentido em toda a União Europeia. Um relatório de 2018 do Parlamento Europeu estimou prejuízos anuais entre 1,31 mil milhões e 8,77 mil milhões de euros. O estudo da carVertical, que analisou dados em diversos países, aponta para uma perda conservadora de 5,3 mil milhões de euros anualmente na Europa devido a estas fraudes.
A dificuldade em provar a adulteração é um dos grandes entraves à resolução do problema. Buzelis explica que "nem todos os países trocam informações sobre veículos" e "muitos registos de quilometragem nunca chegam a ser armazenados eletronicamente." A única forma de confirmar a fraude é através de registos históricos da quilometragem.
Curiosamente, o estudo revela que, apesar de ser um problema generalizado, o impacto financeiro é mais acentuado na Europa Ocidental. Reino Unido (1,4 mil milhões de euros), França (1,15 mil milhões de euros) e Alemanha (1,1 mil milhões de euros) lideram as perdas anuais.
O impacto alargado e a urgência de medidas
Para além das perdas diretas para os consumidores, a fraude da quilometragem tem um efeito cascata em toda a cadeia de valor do setor automóvel. Afeta o valor residual dos veículos, a confiança no mercado de usados e, em última instância, as receitas fiscais dos países. O prejuízo para as economias europeias, que se conta em milhares de milhões, é um indicador claro da urgência de medidas mais eficazes para combater esta prática. A falta de harmonização na partilha de dados entre os países europeus e a digitalização insuficiente dos registos de quilometragem criam um ambiente propício para que os burlões operem com relativa impunidade.
Como se proteger e o papel dos relatórios históricos
Apesar de os governos reconhecerem o problema, as iniciativas para o resolver ainda são limitadas. Por isso, é crucial que os consumidores tomem medidas de proteção. Buzelis sublinha que "um relatório histórico pode mostrar exatamente em que momento e em que medida a quilometragem foi manipulada. Isso ajuda o comprador a decidir se deve prosseguir com a compra ou negociar um preço melhor."
Além da questão da quilometragem, a adulteração do conta-quilómetros pode ser um indicador de outros problemas dissimulados no veículo, levantando preocupações adicionais sobre a proteção do consumidor. A carVertical, que opera em 30 países e recolhe dados de mais de 900 bases de dados mundiais, utiliza a sua vasta informação para apresentar tendências e insights únicos sobre o mercado de veículos usados. A metodologia do estudo incluiu a análise de relatórios históricos de veículos adquiridos por clientes, o preço médio de veículos usados, a percentagem de veículos com quilometragem falsificada e o impacto financeiro da fraude em 17 países europeus.
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