QUANDO ALEXANDRE FERREIRA discursou na cerimónia de abertura da 30ª Convenção da ANECRA, sentiu-se na voz do presidente da associação a determinação de reforçar a posição da Associação relativamente à necessidade que sejam tomadas medidas concretas, mais fortes e eficazes no que diz respeito ao combate à economia paralela, um dos pilares da sua ação enquanto líder da Associação. Foi ainda referido com particular enfase na necessidade de o modelo de fiscalidade sobre o sector automóvel ser alvo uma reforma.
Seguiu-se a intervenção do Secretário de Estado da Defesa do Consumidor, que marcou presença na convenção em representação do Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira. O Secretário de Estado deu particular foco ao papel extremamente relevante que o associativismo teve e ainda tem na economia portuguesa e do qual a ANECRA, com os seus 109 anos e mais de três mil associados é um brilhante exemplo. Ainda com a presença do Secretário de Estado na sala, foi efetuada uma homenagem de reconhecimento da ANECRA, a António Chícharo, importante empresário da cidade de Beja, atual Presidente da Mesa da Assembleia Geral da ANECRA e que ao longo de muitos anos esteve ligado á associação, em particular como membro e presidente da direção.
ECONOMIA DIGITAL VS ECONOMIA REAL
João Ricardo Moreira, membro da administração do Grupo NOS, apresentou um tema sobre a forma como a Economia Digital está a impactar a Economia Real. Foram aludidos alguns exemplos de como o Digital tem vindo a alterar muitos dos modelos de negócio com uma longa existência, alguns dos quais centenários. São os casos de sítios de interet como o “Booking” ou “Airbnb” alteraram de forma drástica o modelo economico do Turismo ou numa outra vertente, como aplicações que todos nós utilizamos diariamente e que dificilmente nos veríamos sem ter acesso às mesmas, exemplos do “google maps” quando vamos em viagem ou o TripAdviser para escolher um restaurante. Foi também referido por este gestor que a chegada do 5G (mais rapidez, mais quantidade de informação, baixa latência) vai abrir as portas a um crescimento absolutamente exponencial de muitas tecnologias e/ou projetos que já estão entre nós, caso dos veículos autónomos.
COMÉRCIO AUTOMÓVEL, QUE PRODUTO, QUE NEGÓCIO?
Foi debaixo deste tema foram destacadas várias vertentes. Uma delas é “Qual o Modelo de Negócio futuro para os Operadores do Sector, em Particular na Venda de Carros novos.” Foi unanime que, com base no crescimento cada vez maior de grandes operadores (que se relacionam muitas vezes diretamente com as marcas/fabricantes, caso das gestoras) as empresas que comercializam carros novos veem, a cada dia que passa, o seu mercado alvo a estreitar, pelo que terão , forçosamente de intensificar o processo de diversificação (nomeadamente através da venda de usados, de peças, intermediação financeira, pós-venda, etc.) assim como numa aposta em novas formas de acréscimo de valor à venda. Por outro lado, foi referido que os retalhistas e em particular os grandes grupos de retalho, têm vindo cada vez mais a entrar no Comercio de Usados, até como forma de compensação para decréscimo radical das margens resultantes da venda de Viaturas Novas.
A generalidade dos presentes, concordou que o Online tem cada vez mais um papel determinante na venda de viaturas, em particular no processo de promoção. Foi referido que, ao dia de hoje, a maioria dos clientes chegam ao Stand com um elevado grau de conhecimento da viatura pretendida, fruto de pesquisas e análise prévia na Internet, “…muitas vezes já sabem mais que os próprios Vendedores…”. Foi ainda mencionado que os operadores do sector deverão começar a tirar mais partido da Internet.
O FUTURO DA OFICINAS E PÓS-VENDAS
O segundo dia da convenção foi em grande parte direcionado para o futuro das oficinas, do pós-venda e dos diferentes conceitos oficinais que já começaram a surgir, com uma forte tendência para que esse processo se intensifique nos tempos mais próximos, em grande parte consequência das novas motorizações (híbridos, híbridos plug-in, elétricos) e da nova geração de clientes com hábitos muito distintos das gerações anteriores.
Cada vez mais os grandes operadores, como as gestoras de frota e as seguradoras, encaminham serviços para as oficinas independentes. Acontece inclusive o facto de as gestoras de frota, que durante muitos anos, trabalhavam quase em exclusivo com as oficinas de marca, terem iniciado, desde há alguns anos, um processo gradual de colocação de serviço de manutenção e reparação em oficinas independentes. Esse processo tem vindo a ganhar força e nos últimos anos o “share” de serviços de manutenção efetuados em oficinas independentes é já bastante considerável.
Foi também aceite unanimemente que a certificação das oficinas, mais que uma exigência ou uma obrigação, é um fator determinante para o sucesso futuro das oficinas de colisão. A este propósito os operadores que estavam em representação das seguradoras e das gestoras, fizeram questão de marcar, que apenas trabalham com oficinas que cumprem regras claras, de elevados padrões de qualidade de processos e de serviço.
A propósito da análise da contribuição para a rentabilidade das oficinas (peças ou mão de obra), ficou novamente claro que a rentabilidade tem que ser o resultado do conjunto destes dois fatores. Foi referido que em Portugal o valor da mão de obra ainda é muito baixo quanto comparado com outros países nossos congéneres.
Digitalização do pós-venda, foi outro tema que se destacou, com Carlos López, da Launch Ibérica, a fazer uma apresentação sobre a tecnologia ADAS. Segundo o qual, os serviços de calibração do ADAS vão, nos próximos anos, crescer de forma exponencial, uma vez que, até 2022, todos os veículos terão que estar equipados de fábrica com este sistema. Com base num estudo apresentado por Carlos Lopez, o preço médio de calibração é de €225 por automóvel. Sendo o custo do equipamento de calibração cerca de €7.500, a oficina poderá conseguir a amortização do investimento com apenas 33 calibrações. Trata-se, por isso, segundo o mesmo, de uma excelente oportunidade de negócio para as oficinas que pretendem estar na linha da frente.
Já José Carlos Valentim, responsável de formação de pós-venda da Toyota Caetano Portugal, chamou a atenção para as diferentes motorizações que, hoje, equipam as viaturas e a necessidade de a oficina estar preparada para dar assistência a todas elas. Referiu ainda que a formação dos técnicos não é suficiente. É preciso acompanhar as pessoas e há necessidade de DMS’s mais robustos, monotorização dos indicadores de atividade, ferramentas de orçamentação e saber comunicar com os clientes através nos novos canais. Falou, ainda, sobre o fenómeno da reparação remota, uma realidade para a qual todos os operadores devem estar atentos.
Quanto a Nuno Medeiros, da Soulima, abordou o tema da venda de peças online, alertando para o problema da especificidade da maioria dos componentes, que exige know-how para a sua montagem.
No final da Convenção, as Redes Oficinais e a opinião relativamente às vantagens que as mesmas podem aportar às oficinas Independentes, foi o tema abordado. Foi opinião generalizada que existem várias e importantes vantagens que uma oficina independente pode obter pelo facto de pertencer ou estar incluída numa rede oficinal: formação profissional, consultoria técnica, marketing, condições comerciais fruto de compras centralizadas assim como um potencial gerador de negócio, beneficiando de uma estrutura global. Foi, no entanto, destacado que, não obstante as vantagens de estar associado a uma rede de oficinas, essa não ser a única solução e que há espaço e mercado para operadores Independentes que o queiram continuar o continuar a ser, fruto de terem uma maior flexibilidade e capacidade de adaptação às necessidades especificas que o Mercado envolvente lhe oferece.
Ana Xavier, da Polivalor, falou sobre “Bridging the Gap – Comunicação eficaz com os clientes”. É essencial estabelecer pontes de ligação com os clientes e, na atualidade, o marketing digital é a melhor forma de fazê-lo. Mas a comunicação para ser eficaz tem de ser sistemática e o processo deve ser contínuo.vDe igual forma há cada vez mais necessidade de adaptarmos a nossa comunicação, forma, meios e ferramentas utilizadas em função do mercado alvo que queremos atingir. Não podemos comunicar da mesma forma, pelos mesmos canais e utilizar as mesmas mensagens se estivermos a nos dirigir para diferentes “targets geracionais”.
O presidente da Comissão Indústria da CIP, Luís Mira Amaral, falou sobre a atualidade e o futuro do comércio e reparação automóvel. Claramente cético quanto ao atual modelo de funcionamento do Mercado Automóvel e em particular com algumas interferências externas ao mesmo, que na sua opinião se revelam desajustadas, deixou em forma de desafio: “se a tecnologia vai assegurar a neutralidade em CO2 e NOx entre diesel e gasolina, deixem o mercado funcionar e os clientes escolher até chegarmos à era elétrica.” Roberto Gaspar, secretário geral da ANECRA, aproveitou para anunciar o lançamento de uma nova solução tecnológica (plataforma de acesso online) de apoio a oficinas associadas, designada por ANECRA CarData e que se propõe trazer alguns fatores Diferenciadores ao Mercado, nomeadamente, acesso imediato á viatura pretendida, bastando para tal introduzir a matrícula, fácil acesso na procura da Informação desejada através de um motor de busca inteligente e flexibilidade absoluta no modelo de pagamento – na lógica “Pay Per Use” – com possibilidade de escolher diferentes pacotes ajustados às suas necessidades. A 30ª Convenção da ANECRA terminou da melhor maneira com uma breve, mas sentida intervenção do presidente da ANECRA, Alexandre Ferreira, onde manifestou o orgulho e o privilégio que sente por poder ter assumido aquele que considerou ter sido o maior desafio da sua vasta carreira, enquanto líder da associação.