Proposta da Comissão Europeia estabelece metas mais ambiciosas na extração e reutilização de matérias-primas dos automóveis em fim de vida.
A União Europeia quer mudar o circuito de reciclagem de automóveis em final de vida e criar um sistema que permite reduzir o desperdício de matérias-primas, mas a regulação proposta pela Comissão necessita de tecnologias ainda não existentes. A ideia de Bruxelas é garantir que os materiais dos veículos fiquem na UE, alimentando uma economia circular.
Das estradas europeias são retirados todos os anos 6 milhões de automóveis, contendo aço, plástico, alumínio ou diversas terras raras, incluindo recursos que a Europa tem de importar. A guerra na Ucrânia e as sanções à Rússia agravaram a dependência europeia em matérias-primas cruciais para o fabrico de veículos. Além disso, a indústria está a apostar fortemente em carros elétricos construídos com materiais não abundantes na Europa.
A proposta da Comissão eleva a fasquia da reciclagem, mas as regras também pretendem facilitar a extração e, por isso, vão influenciar o design e as técnicas industriais. O fabrico dos automóveis incluirá as instruções para a extração e reutilização dos materiais.
É preciso tirar mais dos veículos em fim de vida e, em relação aos novos, os construtores terão de usar maiores quantidades de matérias-primas recicladas. Será também reforçado o controlo do fim de vida dos automóveis, para que as autoridades saibam o que acontece a cada veículo. Isto inclui a proibição da exportação de carros que já não podem circular nas estradas europeias, negócio que hoje contribui para elevadas taxas de sinistralidade, por exemplo, em África, onde são utilizados carros importados da Europa já sem condições de utilização.
A iniciativa europeia insere-se nas políticas ambientais e industriais da UE, levando em consideração a proteção do mercado único, os interesses do setor automóvel e a sustentabilidade dos transportes. O reforço da reciclagem permitirá gerar 1,8 mil milhões de euros anuais até 2035, consideram os responsáveis comunitários. Haverá redução de importações e de emissões de carbono (pelo menos 12 milhões de toneladas de CO2). As metas de reciclagem são contabilizadas: 25% do plástico utilizado nos novos automóveis terá proveniência de reciclagem e deste, pelo menos um quarto com origem na reciclagem de carros.
Modelo circular
Um veículo de passageiros tem mais de 900 quilos de aço e 150 de plástico e muito do material pode ser recuperado. A indústria automóvel europeia já pratica processos de reciclagem e reutilização, a economia circular: onde antes havia produção, uso e sucata, agora recupera-se o maior número possível de componentes. No modelo circular, os carros duram mais tempo e são mais fáceis de desmontar. Veja-se por exemplo a bateria do carro elétrico, que no final da sua vida pode ainda produzir energia ou ter os respetivos materiais reutilizados.
O parque automóvel está a ser eletrificado a grande velocidade e, para além de aço, plástico, borracha ou alumínio, a indústria da reciclagem terá de se concentrar na recuperação de matérias-primas cruciais nas baterias (lítio, cobalto, níquel e manganésio), que são difíceis de extrair no final da vida do automóvel. Há um problema com estes minerais: eles são escassos e podem não ser suficientes para a elevada procura de automóveis elétricos na década de 2030, quando em cada ano serão vendidos entre 12 e 15 milhões de carros na UE.
Em média, uma bateria exige 8 quilos de lítio, 14 de cobalto e 20 de manganésio, mas para as baterias mais potentes as quantidades são maiores. É fácil entender que a reciclagem destas matérias-primas reduz as importações. Como disse o comissário do mercado interno, Thierry Breton, ao explicar a proposta da comissão, há criação de emprego, uma cadeia de oferta mais resistente e reduz-se “a exposição à volatilidade dos preços”.
Estas iniciativas envolvem elevados investimentos, mas a UE considera que a intensificação da economia circular no setor automóvel dará origem a benefícios económicos para os construtores. A transição para o carro elétrico pode facilitar a criação do novo sistema e a legislação revela uma preocupação particular com o impacto ambiental das baterias, desde a produção ao fim da vida. A recente diretiva europeia estabelece que pelo menos 85% dos componentes dos carros elétricos têm de ser recicláveis, mas já existem marcas a apresentar conceitos circulares e veículos 100% recicláveis. Os avanços digitais e a inteligência artificial fazem parte da equação.
A associação de construtores do setor automóvel ACEA reagiu às propostas da Comissão com críticas, dizendo que as metas são demasiado ambiciosas e que materiais inovadores podem ser mais difíceis de reciclar. Por outro lado, as fábricas podem enfrentar escassez de matérias-primas recicladas. As associações ambientalistas consideram por sua vez que estas propostas estão aquém do desejável.
Texto original escrito pelo Diário de Notícias
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