Quando desejamos dar a conhecer de forma mais profunda a sua Associação e os rostos que lhe foram dando forma e conteúdo, a ANECRA Revista não pode passar por alto algumas das suas figuras maiores e por isso esta edição surge ilustre pela oportunidade de falar com António Chícharo, hoje Presidente da Mesa da Assembleia Geral da ANECRA, mas um homem com um passado intimamente ligado á Associação tendo passado pela Presidência da Associação.
Não foi a entrevista que desejávamos, pois, as limitações que o Covid-19 impõe a todos impediu a deslocação ao maravilhoso Alentejo e a Beja para falar pessoalmente com António Chícharo. Porém, aqui fica o testemunho de um homem que muito fez pelo setor e pelo Associativismo materializado na ANECRA. Uma entrevista de vida á qual regressaremos outro dia sem as amarras impostas por este assassino silencioso e invisível que ajoelhou o Mundo.
AR – Como olha para o retrovisor depois de tantos anos de caminho feito na Anecra e no setor? Com saudades? Ou não se preocupa muito com o ficou lá atrás?
AC – Quando revejo o meu passado no sector e na Anecra sinto enorme satisfação, por tudo o que foi acontecendo em especial nas amizades de todas as pessoas. Alguma nostalgia pelos amigos que foram desaparecendo e outros que envelheceram.
Mas foram tempos felizes!
AR – Conte-nos como foi vendo a evolução do setor desde os primórdios até ao momento presente?
AC – Quando comecei a trabalhar, por volta dos anos 60 era tudo artesanal e o relacionamento pessoal era baseado na confiança e no respeito mútuo. As empresas funcionavam de acordo com a intuição e a “manha” do Empresário.
Foram tempos sem grandes constrangimentos. Depois e a partir dos anos 70 tudo mudou. Criaram se regras de gestão, contabilidade, gestão de stocks, gestão de pessoal e começou a olhar-se para os custos e as receitas.
AR – Estamos melhores ou piores?
AC – Muito melhores. Mas pode sempre ser feito mais, porque esta missão não tem fim. Poderíamos ter feito muito mais, mas o contexto externo, teve enorme evolução e na Anecra tivemos sempre que nos adaptar.
AR – A sua participação na vida da ANECRA deixou uma marca indelével. Gostaria de ter feito mais ou está bom assim? Do que é que se arrepende nestes anos todos?
AC – Ao longo do meu trajeto na Anecra sempre lutei para que a nossa voz fosse ouvida. Conseguimos isso junto dos nossos associados, junto de alguma Imprensa e de alguns Serviços Oficiais. Chegamos de raspão aos principais Poderes Políticos e Governantes. Nunca me arrependi do que aconteceu no passado. Fiz aquilo que achei mais oportuno e relevante a cada momento, sempre com alma e paixão.
AR – O que gostaria de ter feito diferente ao longo do seu trajeto?
AC – Gostava de ter ajudado a fazer mais. É essencial mostrar aos Poderes Governantes o peso do Sector em termos de arrecadação de Impostos e Postos de Trabalho. Falta-nos a criação do Instituto do Automóvel. Enfim, é uma obra inacabada.
AR – Quais foram os piores períodos que conheceu dentro da ANECRA?
AC – O pior período da ANECRA aconteceu no início do meu mandato de Presidente. A situação financeira era dramática e tivemos salários e Impostos em atraso. Felizmente passamos essa fase com um espetacular apoio dos nossos Associados e a enorme dedicação dos nossos Dirigentes e dos Colaboradores da ANECRA e nos dias de hoje somos exemplares nessa área.
AR – Entende que a ANECRA é essencial para o Setor das Oficinas, do Aftermarket e do Comercio Automóvel?
AC – A ANECRA é essencial para todo o Sector Automóvel, no sentido do vasto apoio que sempre temos dado aos nossos Associados.
AR – Quais foram os momentos mais tensos que viveu ao leme da ANECRA?
AC – Felizmente não tive momentos tensos, enquanto Presidente. Todas as situações mais ou menos complicadas, foram ultrapassadas com o bom senso e a dedicação de toda a Direção, dos Colaboradores e dos Dirigentes.
AR – Tem saudades do seu tempo como presidente da ANECRA?
AC – Tenho sim senhor. Da excelente colaboração que sempre me dedicaram e da amizade que saiu reforçada. Ainda hoje e quando posso, vou almoçar com os Diretores.
AR – Acha que deveria ter feito algo de diferente enquanto foi presidente?
É sempre possível fazermos mais e melhor. Eu fiz sempre o que podia com paixão e alguma visão sobre aquilo que poderia ser feito pelos nossos associados.
AR – Pegando no seu profundo conhecimento, como caracteriza o setor neste momento?
AC – O atual momento do Setor Automóvel é tão cruel e complicado, que não sabemos bem ainda quais vão ser as consequências futuras. Mas sei que só unidos – Associados, Dirigentes, Empresários, Colaboradores, Estado – conseguiremos chegar ao fim.
Porque, quer queiram quer não, esta crise é para todos e vai tocar a todos!
AR – Conte-nos algumas histórias engraçadas o seu tempo como Presidente e agora como Presidente da Mesa da Assembleia Geral?
AC – O tempo passou se tão depressa e o trabalho foi tão sério que não dei conta de nada…engraçado isso. Talvez se contasse uma anedota ou outra sobre os Alentejanos de nos fazer rir e pôr bem-dispostos.
AR – Se tivesse surgido essa oportunidade, aceitaria um cargo político? O que acha da ação dos políticos face ao nosso setor?
AC – Nunca tive jeito para político e para dizer uma coisa agora e o contrário a seguir. Não, não tenho jeito.
AR – Olhando a todo o seu percurso, como é que caracterizaria o Setor no futuro, especialmente despois desta pandemia?
AC – Ainda não sei. Mas sei que não vai ficar igual. Devíamos todos aproveitar para fazermos algumas alterações. O Estado não pode continuar a asfixiar o Setor com a tremenda carga fiscal atual. Tem que começar a encarar o setor com o peso que tem no campo dos impostos e na ocupação de posto de trabalho.
Todos, o Fisco, as Companhias de Seguros, a Legislação do Trabalho; as Marcas, todos têm que começar a ver o Setor como Parceiro e não como Contribuintes.
As Associações têm que ter peso e voz nas decisões para o Setor, porque se assim não for isto ficará reduzido a metade do que é hoje.
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AR – No final desta entrevista, gostaria que deixasse uma mensagem para os associados da ANECRA.
AC – Olhando á situação atual do mundo devido a esta pandemia, gostaria de dizer que esta crise é para todos: altos e baixos, pequenos e grandes, fortes e fracos, organizados e desorganizados, mais espertos e ou menos espertos.
Porém, todos temos que tomar decisões. A ANECRA tem um Quadro de Pessoal preocupado com a situação, acompanhando a crise dia a dia. Dispõem de conhecimentos na área da nova legislação. Sabem quais são os apoios financeiros à nossa atividade, sabem quais são os apoios ao nosso pessoal.
Sabem dia a dia o que se passa no País no nosso Setor. Por tudo isto pode ser uma útil ferramenta para vos ajudarem a tomar decisões. Aproveitem o melhor possível estes conhecimentos. Por favor, contactem a ANECRA que está, como sempre, totalmente disponível para ajudar os Associados.