FEIRA DO CONHECIMENTO NO PÓS-VENDA PARA UM MERCADO GLOBAL

A Motortec, feira que recebe de forma conjunta a feira para Madrid da Automechanika, é hoje uma das mais importantes feiras do sector automóvel a nível europeu, a qual, como refere o nome oficial do evento, surge dirigida a visitantes profissionais da Península Ibérica, América Latina e Norte de África. David Moneo é o responsável máximo desta Feira Internacional organizada pela IFEMA – Instituição de Feiras de Madrid –, tendo sido nessa qualidade que nos deu conta do que deverá ser este ano mais uma edição virada não apenas para o mercado espanhol, mas sem dúvida para a realidade do sector do pós-venda de uma forma global na Península Ibérica.

No arranque do diálogo com David Moneo, procuramos ter um resumo da realidade da Motortec, nomeadamente o tipo de feira e o facto de estar associada à Automechanika, bem assim como a quem se destina e quais os objectivos de uma feira que “procura reunir todos os actores principais na área do pós-venda, desde os fornecedores, distribuidores, oficinas, equipas de trabalho, todos aqueles que surgem com um papel activo no sector do pós-venda até chegarmos aos clientes.” “Quando falamos em clientes, referimos intervenientes neste sector que não se resume às oficinas mas a todos os demais clientes do pós-venda, nomeadamente os clientes frotistas mas também as gestoras de frotas, sejam frotas de transporte de passageiros ou de mercadorias, e ainda as seguradoras ou as empresas no rent-a-car, e tudo isto por considerarmos que ao alargar o espectro do cliente deste sector conseguimos uma feira mais preenchida e abrangente.”

A Motortec resulta assim numa feira que, segundo David Moneo, no diálogo mantido com a ANECRA Revista, “visa permitir a todos aqueles que a visitam que fiquem melhor preparados para os desafios que se avizinham em redor do automóvel, com a conectividade crescente, a condução autónoma, a digitalização, a melhor forma de relacionamento com os clientes e a evolução da tipologia de clientes que poderemos ter no futuro.”

“Ao irmos em busca destas respostas – acrescenta –, procuramos que a Motortec seja uma feira de conhecimento construído com base na experiência de todos, para que se possa enfrentar o futuro com segurança.”

Perante a evolução de tantas situações como a condução autónoma, a conectividade e o automóvel partilhado, aumenta a necessidade de uma actualização constante?

Sem dúvida que a actualização é determinante e a Motortec tem a preocupação em conseguir dar uma resposta sempre de acordo com os avanços do conhecimento. A realidade evolui hoje com mudanças muito rápidas e no sector do aftermarket a mudança é um facto, também porque a forma como se relacionam as oficinas com os seus clientes está igualmente a mudar, exigindo o cliente um serviço com maior capacidade de resposta, muito mais profissional e mais adaptado às necessidades de mobilidade.

Uma feira como a Motortec, também por ser uma Automechanika e ter a sorte de poder contar com a área da Automechanika tão perto da nossa realidade, das nossas oficinas e do nosso sector de pós-venda, permite outra capacidade de manter contacto com o sector, os novos projectos e as novas ideias.

Olhando para trás, como construiu a Motortec a imagem de prestígio que sem dúvida possui?

Creio que a Motortec construiu essa imagem por força de vários factores, cada um com a sua importância e todos eles a contribuírem com partes importantes para o todo que é hoje a Motortec. Particularmente importante é o vínculo que possuímos com a Automechanika, porque ao fim e ao cabo pertencemos a uma das famílias mais importantes no que diz respeito a certames na área do Aftermarket a nível mundial. Isso transporta-nos para um patamar de qualidade e profissionalismo, mas também um patamar de exigência, para alcançarmos essa qualidade, que porventura outras feiras mundiais não conseguem alcançar.

Por outro lado, há já um percurso e uma tradição inegável em redor da Motortec, com um percurso de trinta anos de edições ininterruptas, as quais constituíram sempre enormes êxitos. Mesmo durante os anos de maior crise económica, sofrendo com as limitações impostas pela economia, a verdade é que a Motortec se manteve viva e ganhou com isso credibilidade. Além disso, importante também para explicar a força da Motortec é a força deste sector na Península Ibérica, seja em Portugal ou em Espanha, o que permite que este tipo de feiras possam ter uma grande aceitação e um enorme nível de qualidade.

Poderemos apontar o mercado ibérico como um grande mercado, ou as diferenças entre Portugal e Espanha obrigam a uma visão específica para cada país?

Esse é um tema que temos debatido desde que começamos a pensar este evento. A própria Automechanika é hoje uma feira que engloba todo o mercado ibérico, naquele que é um movimento imparável. Desde a crise económica que muitas multinacionais começaram a considerar o mercado ibérico automóvel como um mercado único, e isto resulta numa realidade também para o mercado do pós-venda que resulta na presença de mais intervenientes dos dois países, num crescimento que me parece imparável.

A propósito, o próprio mercado está a caminhar para uma integração e isso sem dúvida que tem a sua lógica. Veja-se a dimensão impressionante atingida em Espanha por alguns grupos de distribuição automóvel portugueses, como a Santogal ou o Grupo Caetano, mas também de alguns grupos espanhóis presentes em Portugal com enorme força. Esta realidade é sem dúvida positiva… é bom que assim seja!

Acredita então que é possível criar um grande mercado ibérico?

Pessoalmente espero que seja possível esse grande mercado, não só neste sector automóvel como em todos os outros. No final, estamos obrigados a entender-nos, na direcção de um mercado integrado que interessa às duas partes.

As minhas funções, todavia, têm-me permitido conhecer melhor o mercado do pós-venda português e em relação ao que se passa em Espanha há de facto algumas diferenças. Porém, se fizermos uma análise à realidade do mercado espanhol, também aí encontramos diferenças entre as diversas regiões, com as práticas na Catalunha, em Madrid ou nas Astúrias a serem distintas, tal como acontece na forma como as oficinas estão organizadas nas suas associações em Madrid ou na Andaluzia. Há sempre diferenças, mas o importante é que estas não sejam entendidas como barreiras intransponíveis para a concretização de um mercado único.

Poderão as várias regiões ibéricas “aprender” umas com as outras?

Eu vi coisas muito boas nas visitas que fiz às associações catalãs, com uma integração muito positiva dos sectores da pós-venda com a distribuição, algo que nem sempre encontrei em outras províncias, e sem dúvida que se poderá aprender com as melhores práticas que se encontram em cada região, província ou país. No final, iremos sempre encontrar diferenças, mas essas diferenças acabam por enriquecer o mercado, principalmente pela possibilidade que as distintas formas de aprendizagem podem contribuir para os melhores resultados de todos.

Será assim possível termos um mercado a trabalhar de uma forma coordenada e integrada, até porque chegaremos a uma realidade em que as próprias empresas, presentes em um ou outro país mas de uma forma global, terão as metas respectivas já não para Espanha ou Portugal mas para a sua actividade em toda a Península Ibérica.

Apesar disso, a Motortec não fecha os seus horizontes à Península Ibérica e pretenderá chegar ainda mais longe…

A Motortec poder ser um palco que ajude a indústria automóvel na Península Ibérica a alcançar outros mercados no exterior, não sendo por isso a Península Ibérica o nosso limite mas sim a nossa base, de onde poderemos exportar a matéria-prima que é a nossa actividade para outros países. De qualquer forma, temos que estar conscientes da realidade e senão veja-se o que se passa com a Automechanika – se é um facto que nos favorece estarmos integrados na grande família das feiras Automechanika, isso também nos limita –, mas acredito ainda assim que a partir da Motortec ibérica poderemos ser uma feira que ajuda a nossa indústria e as nossas empresas a abrirem caminhos para mercados como o de África.

Em concreto sobre a edição de 2019 da Motortec, o que podemos esperar deste evento?

Nesta edição pretendemos consolidar o projecto que colocámos em marcha em edições anteriores, procurando incorporar novos projectos e novos segmentos que em anos anteriores não tivemos oportunidade de considerar. Por exemplo, no sector dos veículos pesados, desenvolvemos um projecto que esperamos que se consolide no futuro e que vem permitir uma oferta até agora inexistente no que diz respeito aos veículos industriais. Esta foi uma área que em edições anteriores não pudemos dar-lhe o devido espaço e agora queremos que a mesma tenha a importância que lhe é devida.

Teremos assim diversas actividades orientadas para as oficinas de veículos industriais. Vamos permitir o primeiro congresso dedicado aos veículos industriais, e permitir com isso uma marca própria dentro da Motortec, com o objectivo de atrair um público e um conjunto de actividades que em outras edições não vieram até à Motortec. Iremos ter assim presentes as entidades que gerem as frotas de veículos industriais ou as frotas de autocarros, importantes consumidores do pós-venda para os seus sectores.

Estarão presentes grupos frotistas de Portugal, também de Itália, e será possível organizar jornadas de trabalho dirigidas aos frotistas nestas áreas que para nós serão particularmente importantes.

Tudo isso e ainda…

Será ainda organizada, com o apoio da associação dos concessionários automóveis em Espanha, uma jornada relativa à área de pós-venda oficial, isto porque consideramos que os concessionários são entidades particularmente importantes para a Motortec, e através desta jornada teremos oportunidade de chamar à Motortec um considerável número de concessionários oficiais que terão todo o interesse em participar destes trabalhos. Pretenderemos com isso garantir um alcance global, colocando como nossa meta uma visão global e fazer da Motortec uma feira realmente abrangente de todo o sector do pós-venda.

Referiu atrás nomes de alguns “players” importantes do sector automóvel em Portugal, como a Santogal ou o Grupo Caetano… Possui a Motortec alguma estratégia para chamar a si o sector do pós-venda em Portugal para esta feira em Madrid?

A nossa estratégia passou, em uma primeira fase, por colocar em marcha uma campanha de comunicação muito mais agressiva através dos diversos canais de informação em Portugal. Depois, em uma segunda fase, para mim muito mais importante, procuramos integrar o meio associativo português, através da ANECRA e da ACAP, na definição da estratégia global da Motortec. Se no passado conseguimos as melhores parcerias com as associações de oficinas em Espanha, permitindo à feira a importância que o sector merece, hoje trazemos também as oficinas portuguesas já não como uma presença pontual mas como entidades que estão naquele que é também o seu espaço por direito próprio.

Olhando em frente, vamos assinar um acordo de colaboração com a ACAP, tendo em conta já a edição da Motortec de 2021, e iremos estar presentes nos congressos das principais associações do sector automóvel em Portugal, permitindo com tudo isso que seja possível estarmos junto do sector do pós-venda em Portugal do mesmo modo que o sector possa estar junto de nós.

Para onde caminha o sector automóvel em geral e a área do pós-venda em particular?

Na verdade é difícil dar uma resposta efectiva a essa questão, até pela enorme quantidade de incertezas que se mantém no horizonte. Ainda assim, creio que o sector automóvel se dirige para uma realidade sem dúvida melhor do que aquela que temos hoje. Eu sou optimista por natureza e creio que todas as mudanças acontecem para melhor, acreditando que o sector possui muito mais espaço por onde melhorar. A relação com o cliente será muito mais profissional e mais directa, e em relação a todas as interrogações que se mantém no horizonte do sector automóvel, só teremos que converter as aparentes ameaças em oportunidades.

De que oportunidades poderemos estar a falar?

Acredito que poderão haver grandes oportunidades para os concessionários, mas também para o pós-venda independente. Por outro lado, os novos modelos de mobilidade irão obrigar a mudanças, mas no final terão que se apoiar nas empresas e nas entidades pois são elas o garante da mobilidade, acabando o sector do pós-venda por ser aquele que continuará a dar garantias de mobilidade, seja para veículos eléctricos, a gás, a hidrogénio ou qualquer outra forma de energia.

Ou seja, acredita que haverá sempre uma presença útil deste sector independentemente dos avanços tecnológicos na mobilidade?

Se há um sector no que diz respeito à mobilidade que poderá respirar fundo e permanecer tranquilo é o sector da pós-venda. As mudanças que se aproximam são muito rápidas, requerem adaptação, mas serão fundamentais para a melhor mobilidade no século XXI e irão envolver sempre o sector da pós-venda.