O MERCADO DE COMÉRCIO AUTOMÓVEIS USADOS E A HISTÓRIA DE UM PATINHO FEIO QUE SE TRANSFORMOU NUM CISNE

O Comercio de Automóveis Usados, foi durante muitos anos, um mercado com uma elevada estabilidade e com muito poucas ou quase nenhumas alterações.

Durante anos, mesmo décadas, este segmento, esteve entregue a pequenos e médios Operadores de Mercado, a que se convencionou denominar como Comerciantes de Usados. Os preços pouco oscilavam, os canais de fornecimento, eram quase sempre os mesmos, nomeadamente as empresas que tinham uma frota automóvel para a sua actividade empresarial, os operadores de Rent-car (numa altura em que os buy backs ainda tinham pouca expressão) e, claro os carros das PMEs e dos particulares.

Depois, há pouco mais de 20 anos, apareceram as Gestoras de Frota, e gradualmente as Marcas e os Fabricantes implementaram o Modelo de Buy-Backs no negócio das Rent-a-cars, e de alguma forma o panorama começou a mudar, e a mudar muito.

Mais tarde, e em grande parte motivado, por um lado, pelo aparecimento das Gestoras de Frota e da necessidade de escoar os buy backs das Marcas e das Rent-a-car e num outro plano com a necessidade de novos critérios de profissionalismos e transparência de processos, surgiu um novo Player de Mercado, em concreto as Leiloeiras de Automóveis. E isto, alterou fortemente o negócio do Comercio de Usados: De repente, todos os Comerciantes, independentemente da região do Pais onde operavam ou da sua dimensão, podiam aceder aos carros das Gestoras, das Empresas Frotistas. das Rent-a-cars, entre outros.

E depois, há cerca 15 ou 16 anos, tudo mudou: a Internet entrou na equação, e nunca mais nada foi como antes. A Internet mudou de forma absolutamente radical todo o modelo de negócio do Comercio dos Usados!

Subitamente o Mercado, passou a ser um Mercado Global; um Cliente de Faro poderia aceder a uma oportunidade de negócio em Lisboa, em Leiria ou mesmo em Braga. Um Comerciante que estava no Centro, no Norte ou no Sul tinha uma montra enorme para todo o Pais, assim o quisesse e soubesse fazer.

Fruto deste fenómeno, alguns pequenos empreendedores souberam, e bem, faze-lo. Hoje, no Mercado Automóvel Português temos excelentes exemplos de grandes empresários do sector, verdadeiros modelos para todo o Mercado, que souberam utilizar o advento da Internet em seu Proveito.

Mercado mudou e continua a mudar muito! A Internet continua a ter, e terá cada vez mais um papel fundamental no modelo de negócio associado ao Comercio de Automóveis Usados, é verdade! Mas o mercado continua a evoluir de forma desconcertante! O Fenómeno das Leiloeiras, que não há muitos anos tinham uma importância enorme neste segmento, perderam muita da sua força e da sua influência. Grandes Operadores, como as Gestoras de Frota, que estão mais fortes que nunca, e que durante anos apenas estavam no B2B para escoarem as viaturas usadas, passaram a apostar estrategicamente no B2C. As Marcas e Importadores, que até bem pouco tempo descuravam este segmento, apostam hoje de forma clara no negócio dos Usados, com Programas específicos para o segmento.

Mesmo os Grupos de Retalho que, com algumas honrosas exceções, durante anos consideraram esta área como uma vertente do negócio menos nobre e pouco relevante para a sua conta de exploração (chegavam mesmo a deixar o negócio dos carros usados e das denominadas retomas, ,de forma mais ou menos informal, nas mãos dos seus Comerciais), passaram hoje, eles também, a perceber que este é um segmento absolutamente estratégico na sustentabilidade dos seus negócios, procurando em muitos casos ir à procura de uma rentabilidade que já não conseguem e dificilmente conseguirão no futuro, na venda de carros novos.

Roberto Gaspar - Secretário-Geral da ANECRA