Um Desafio extremamente aliciante numa Organização Centenária

Conhece o meio como poucos, passou a sua vida profissional às voltas com números e previsões, projeções, ocupou a cadeira de gestão em outras ocasiões e confessa que um período da sua vida foi feito entre bancos dos aeroportos e as poltronas dos aviões, tornando-se passageiro frequente.

Colaborou anos a fio com a ANECRA e perante o desafio atirado para o colo de assumir o papel de Secretário-Geral da Associação Nacional das Empresas de Comércio e Reparação Automóvel, não hesitou e agarrou-o com ambas as mãos. Chama-se Roberto Gaspar e é o entrevistado desta edição da ANECRA Revista

 

OS QUADROS DA ANECRA são de qualidade excecional e como Secretário-Geral a sua Associação teve um rosto que é conhecido de todo o universo do comércio e da reparação automóvel nacional e internacional: Jorge Neves da Silva. A sua forma gentil de se relacionar fazia a delícia dos jornalistas, a sua negociação cordial, mas firme na defesa dos Associados da ANECRA deixou marca, enfim, as suas aparições públicas suportando os interesses do setor deixaram marca.

Porém, o movimento associativo é dinâmico e exige muito aos seus representantes. Nesse aspeto, o excelente contributo dado por Jorge Neves da Silva no âmbito da ANECRA torna-o um campeão, um guerreiro que necessitou de descansar depois de muitas batalhas ao longo de mais de duas dezenas de anos. Mas o seu amor à causa fê-lo manter-se em funções de assessória da direção e responsabilidade pela ANECRA Revista.

A eternidade não existe e por isso chegou o momento de revisitar o cargo de Secretário-Geral dando-lhe um novo rosto, uma nova orientação, enfim; uma nova visão; próprias de uma nova personagem que assumiu o cargo depois de uma vida passada no setor automóvel. Chama-se Roberto Gaspar o novo Secretário-Geral da ANECRA e está em entrevista na ANECRA Revista.

 

UMA CARREIRA CHEIA

“Trabalho há 30 anos no setor automóvel” diz-nos com um sorriso Roberto Gaspar, 53 anos, nascido no dia 3 de abril de 1966, em Lisboa. Curiosamente, como refere, “nunca trabalhei propriamente no Comércio Automóvel.” Vamos então conhecer o trajeto profissional do novo Secretário-Geral da ANECRA, com a sua ajuda.

“Como disse, comecei a trabalhar no setor automóvel há 30 anos, primeiro como Inspetor de Vendas da Michelin, depois passei por uma petrolífera, a Fina, hoje parte do Grupo Total. A seguir a minha carreira orientou-se para a Gestão de Frotas, onde passei muitos anos.” Do currículo de Roberto Gaspar fazem parte alguns marcos que o novo Secretário-Geral da ANECRA se orgulha.

“Sim, fiz parte da equipa fundadora da LeasePlan em Portugal, já há mais de 20 anos, passei pela Multirent, ligada ao grupo SAG, ocupei o cargo de Diretor Geral da Fidis, a Gestora de Frotas da Fiat e também estive na génese da ALD Automotive no nosso país.”

Mas não se ficou por aqui e depois destes muitos anos ligado à Gestão de Frotas, abraçou outro desafio. “É verdade, depois de tantos anos na área da Gestão de Frotas, passei a trabalhar na área do “Market Intelligence” Convirá aqui fazer um parêntesis para explicar o que é isto do “Market Intelligence” aplicado ao setor automóvel, o Market Intelligence tem como missão a recolha e tratamento de dados e informação especializada do mercado automóvel com vista à sua disponibilização de forma segmentada, formatada e ajustada às necessidades específicas dos diferentes Operadores de Mercado. Roberto Gaspar esteve sempre na linha da frente deste segmento de mercado, “Market Intelligence”, onde teve uma posição de destaque enquanto fornecedor da maior parte das Marcas e Importadores, tendo sido mesmo o primeiro, entre nós, a lançar esses estudos, hoje conhecidos como TCOs ou “Total Cost of Ownership.”

Tendo em mãos um TCO, é mais fácil fazer a análise comparativa entre 5 ou 6 modelos (dentro do mesmo segmento) e descortinar o custo efetivo de cada viatura, levando em linha de conta todos os fatores: preço, depreciação, custo de manutenção, custo dos pneus, impostos e, eventualmente, o custo do combustível. “Hoje em dia, muito em particular com as novas motorizações (VE e HVE), o TCO de uma viatura é muito importante” lembra Roberto Gaspar, porque “hoje, as marcas quando lançam um modelo novo suportam sempre a sua comunicação nos TCOs, uma vez que para o mercado empresarial esse é o verdadeiro fator de decisão e não unicamente o preço de venda ao público.” Como dissemos, Roberto Gaspar, durante esse tempo, “analisou muitos estudos de mercado, análise de valores residuais, de carros usados, custos de utilização, valores de manutenção”, enfim, a ciência aplicada ao setor automóvel. Os últimos cinco anos foram passados na TecAlliance.

A tal função internacional que fez a sua vida transformar-se. “Passava a vida em hotéis e aeroportos cuidando das regiões da Europa do Sul e o Reino Unido.” Foi um período da sua vida profissional que lhe permitiu conhecer outros mercados, outras culturas empresariais, “conhecer alguns dos decisores nos Headquarters de grandes Grupos do setor como a PSA e outros, uma experiência excecional e muito enriquecedora.”

 

UMA RELAÇÃO ANTIGA COM A ANECRA

Apesar da sua vida profissional preenchida, Roberto Gaspar, nos últimos 10 anos tem “vindo a trabalhar de forma regular com a ANECRA, tanto enquanto convidado a colaborar nos diferentes debates, nas Convenções e Encontros Especializados da ANECRA, assim como participação ativa (enquanto parceiro de negócios) em projetos de elevado valor estratégico para a ANECRA, como são os casos concretos, do Portal do Automóvel, do CEDIRSA, ou do caso mais recente que é o projeto CARUSO.” Ou seja, Roberto Gaspar conheceu grande envolvimento com a ANECRA.

Ora por isso mesmo, o novo Secretário-Geral facilmente lembrou que de alguma forma “a ANECRA já era a minha casa!” Portanto dar o passo seguinte, passar para os quadros da Associação, era apenas natural e lógico. Para Roberto Gaspar “fazia todo o sentido, era um desafio extremamente interessante, não só pela lógica associativa e o desafio que encerra em si mesmo, como pelo facto de a função ter, também, uma vertente com um carácter mais empresarial e de desenvolvimento de negócio.

Senti que poderia acrescentar valor, não apenas no que concerne à busca de novos segmentos de mercado para o seio da Associação, mas também, e não menos importante, porque julgo que posso facilitar o estabelecimento de pontes com outros segmentos de mercados que sejam geradores de valor acrescentado para ambos os lados. Ou seja, para o novo Secretário-Geral da ANECRA, “foi um desafio muitíssimo aliciante que me foi lançado, que fazia todo o sentido, uma vez que para além da componente associativa, de importância primordial, a ANECRA tem, como referi anteriormente, a tal vertente empresarial que eu sentia também capaz de reforçar”.

Isto porque como faz questão de lembrar Roberto Gaspar, “a componente empresarial já existe desde há muito tempo, com grande sucesso, na ANECRA!” Mas dada a sua experiência e envolvimento em outros segmentos e projetos, “julgo estar em condições de poder aportar valor por via da introdução de novos processos, que nos permitam otimizar a nossa vertente empresarial”.

Porém, sem nunca esquecer “que o nosso verdadeiro ADN e razão da existência da ANECRA é a vertente associativa.” Naturalmente que esta visão de Roberto Gaspar, é vista com bons olhos “pela Direção da ANECRA” e o novo Secretário-Geral sentiu “desde o início, entusiasmo e compromisso por parte da liderança da Associação”. Ou seja, “foi uma decisão fácil perante um desafio aliciante com gente boa e dedicada.” Isto porque Roberto Gaspar já conhecia “muito bem a equipa de gestão da ANECRA, a Organização e por isso tudo ficou mais simples, não havendo o perigo de um salto no escuro.

“Quero reforçar que foi fator determinante para que pudesse aceitar o desafio conhecer muito bem pessoal e profissionalmente o Presidente, Alexandre Ferreira e o Secretário-Geral Adjunto, Alves Pereira, pelos muitos projetos realizados em conjunto.”

 

O FUTURO DA ANECRA

“A ANECRA está claramente alicerçada em dois grandes pilares: a Reparação e o Comércio Automóvel, nas suas diferentes vertentes.” Esta é a visão de Roberto Gaspar da Associação. Porém, como destaca o novo Secretário-Geral, “nem sempre se consegue fazer passar de forma efetiva e eficaz essa mensagem, pois muitas vezes quem está de fora olha para a ANECRA apenas como sinónimo de Reparação Automóvel.”

Por esta razão, uma das primeiras tarefas passa “por melhorar a comunicação e sensibilizar os diferentes segmentos de mercado da excecional oferta de serviços, nas diferentes áreas de atuação, da ANECRA.”

Para isso, Roberto Gaspar conta com “com a colaboração de excelentes profissionais, que são os colaboradores da ANECRA.

Quero lembrar que são mais de 30 pessoas que, diariamente, dão o seu melhor nos diversos departamentos, com um grande profissionalismo e dedicação. Fazem o seu trabalho silenciosamente, mas nesta era da comunicação e do digital, queremos dar a conhecer o seu trabalho, as suas capacidades e a forma como ‘vestem’ a camisola da ANECRA” completa Roberto Gaspar.

O novo Secretário-Geral da Associação quer que o mercado, “mas também os nossos Associados conheçam o trabalho de excelência produzido por esses colaboradores. É por isso que queremos destacar e dizer ao mercado que a ANECRA está aqui para apoiar e defender de forma intransigente o setor.” Outro objetivo da ANECRA, no curto e médio prazo, é a busca de outras áreas de mercado onde, não estando presente de forma evidente, acreditamos ter argumentos, pessoas, meios e ferramentas para que possamos ser efetivamente um gerador de mais-valias para as mesmas. “Isto não perdendo de vista, em momento algum, aqui, que a tarefa primordial da ANECRA é representar o nome da nossa Associação ‘Nacional das Empresas de Comércio e Reparação Automóvel’”.

Em resumo, Roberto Gaspar tem a missão de manter o excelente trabalho que tem vindo a ser realizado há mais de uma centena de anos por muitos e bons elementos que o antecederam no cargo, mas colocando uma particular ênfase na comunicação e na diversificação da atividade.

“Sim, queremos reforçar a nossa comunicação, queremos cada vez mais, comunicar mais e melhor, queremos abrir a janela para que vejam o que estamos a fazer no dia a dia da nossa Associação”.

“Depois queremos fruto das nossas capacidades específicas, ser capazes de entrar em segmentos de mercado aos quais julgamos ter condições de adicionar valor. Por exemplo, queremos estar mais perto dos Operadores de Usados, dos Operadores do Comércio de Peças, enfim, queremos estar muito mais perto do nosso mercado natural.” Ou seja, “não queremos perder o nosso ADN e o foco no nosso ‘core business’, a Reparação e o Comércio Automóvel, mas temos de saber cativar e atrair de forma efetiva os diversos segmentos que giram em torno do nosso ‘core’.” E Roberto Gaspar não se coibiu de lançar para cima da mesa os segmentos de que fala. Um deles, o segmento dos veículos usados. “O caso do Comércio de Usados é um exemplo elucidativo de algum défice de comunicação da nossa parte junto deste segmento”.

“Temos alguns dos principais players da área do Comércio de Usados, que são nossos Associados e recorrem de forma regular aos nossos serviços como o Gabinete Jurídico, Gabinete Técnico, Gabinete de Formação, entre outros. Todavia nem sempre, provavelmente por algum défice de comunicação da nossa parte, este trabalho é devidamente percecionado pelos outros Operadores do mercado”.

“Este é apenas um exemplo. Por isso, e não obstante reconhecer o muito trabalho que temos pela frente, queremos que a muito curto prazo os Operadores deste segmento percebam de forma efetiva as muitas vantagens que podem obter no apoio à sua atividade, ao seu negócio, pelo facto de serem Associados da ANECRA”.

Outra das áreas com particular foco, são as denominadas Redes de Oficinas. Percebendo que é uma das tendências do mercado da Reparação, o crescimento das Redes de Oficinas, Roberto Gaspar explica que “temos que estar muitos atentos a este fenómeno e perceber quais as espectativas destes empresários. Temos de saber quais os desafios que enfrentam e de que forma a ANECRA pode contribuir para acrescentar valor à sua atividade empresarial.”

Não esquecendo que “temos muitos Associados que estão englobados dentro destas redes, mas que, não obstante, continuam a ser empresários independentes”. Enfim, são várias, as áreas em que o novo Secretário-Geral da ANECRA está empenhado em dotar, juntamente com toda a Direção e todas as pessoas que trabalham afincadamente em prol da Associação, dos meios e das ferramentas necessárias para enfrentar os muitos desafios que o mercado automóvel enfrenta.

“Costumo dizer que nos mais de 100 anos de mercado automóvel, nunca se viveram, em simultâneo, tantos e tão diversificados desafios com o carácter altamente disruptivo como os que vivemos hoje.” De tal forma que Roberto Gaspar não hesita em dizer que “dificilmente alguém conseguirá elaborar um plano de negócios e lançar uma previsão séria do que será o negócio daqui a 10 anos.” Em face disto, como refere Roberto Gaspar, “há a necessidade de respeitar e consolidar tudo aquilo que já foi feito, com enorme qualidade, e que atapetou o futuro da ANECRA, mas também de termos, todos em conjunto, a capacidade de acompanhar um mercado em grande evolução e com crescentes níveis de complexidade, de forma a sermos capazes de dar as respostas e o apoio que os nossos Associados precisam e vão precisar, seguramente, cada vez mais”.

Nesta entrevista, ficou claro que Roberto Gaspar entrou na ANECRA para pegar com carinho naquilo que foi feito pelos seus antecessores, diversificar a atividade da Associação e atirá-la para o futuro com confiança e um rumo bem definido para que o colaborador e o Associado, bem como o parceiro de mercado encontre na ANECRA um refúgio seguro e uma casa onde sinta que os seus interesses são defendidos. Essa é a casa que Roberto Gaspar, o novo Secretário-Geral da ANECRA, em absoluta consonância com a Direção da Associação, quer construir rumo ao futuro.

José Manuel Costa