TOYOTA CAETANO ANTECIPA RECUPERAÇÃO DE 17% DO MERCADO AUTOMÓVEL NESTE ANO

Em entrevista ao Dinheiro Vivo o grupo português antecipa recuperação de 17% do mercado automóvel neste ano, mesmo com menores benefícios para os híbridos. Autocarros elétricos e a hidrogénio vão crescer fora da Europa.

A Toyota Caetano Portugal tem duas caras para lidar com o presente e o futuro do mercado automóvel. Nos veículos híbridos, critica o governo pelo fim dos benefícios a estes automóveis que contribuem para diminuir as emissões. Nos veículos a hidrogénio, o mesmo governo merece os elogios do braço português do construtor japonês há mais de 50 anos.

Enquanto se divide nestes “volantes”, a Toyota Caetano antecipa para este ano uma recuperação de 17% no mercado automóvel nacional. Ou seja, depois dos 176 992 veículos matriculados em 2020, o mercado poderá ter mais de 205 mil unidades registadas neste ano.

“As vacinas vão ser um sucesso e isso vai ter repercussões no mercado. Assim como o turismo caiu de forma abrupta por causa da covid, assim que não haja esse risco, as pessoas ficarão muito ansiosas para viajar e o turismo vai crescer. O segundo semestre vai ser melhor do que o primeiro”, antecipa ao Dinheiro Vivo o líder da Toyota Caetano, José Ramos.

Com o Orçamento do Estado para este ano, os híbridos só têm desconto no ISV, imposto pago na compra de um veículo, se apresentarem uma autonomia em modo elétrico superior a 50 quilómetros e emissões oficiais abaixo dos 50 gramas de dióxido de carbono por quilómetro (CO2/km). Algo impossível de medir nos híbridos sem ficha de carregamento e que os leva a pagar a totalidade do imposto; até então, tinham um desconto de 40%. Os híbridos plug-in que não cumprirem essa regra também deixam de beneficiar de uma redução de 75%.

“Empregamos mais de 100 mil pessoas. Estou muito preocupado porque pode haver alguma redução de postos de trabalho. Vamos lutar para que estas medidas sejam revertidas”, garante José Ramos.

O Orçamento também mexe nas taxas de tributação autónoma aplicadas aos híbridos plug-in. Os veículos que não cumprirem a regra 50/50 passam a contar com as taxas aplicadas aos restantes automóveis (excluindo os elétricos): 10% para carros inferiores a 27 500 euros; 27,5% para unidades entre 27 500 e 35 mil euros; 35% para automóveis acima dos 35 mil euros. Quem cumprir a regra, continua a beneficiar de taxas de 5%, 10% e 17,5%, respetivamente.

Embora as propostas tenham sido apresentadas pelo PAN, as críticas vão para os socialistas. “Não critico o PAN, porque tem menos possibilidades de ter especialistas técnicos do que o PS e o próprio governo, que deviam ter tido o cuidado de ouvir as marcas. O que o PS e o governo fizeram foi acabar com os incentivos e atirar o ónus para o PAN”, lamenta.

Nos últimos dias, os socialistas propuseram a proibição da venda de carros a combustíveis fósseis a partir de 2035, no quadro da nova lei do clima. “É uma incongruência. O futuro está nos híbridos e acredito que vamos convencer o Parlamento a recuar” na proposta para acabar com os benefícios a estes automóveis.

Apesar disso, José Ramos acredita que os portugueses não vão comprar menos carros deste tipo. “Vai haver um desvio para os motores a gasóleo e a gasolina. Há marcas que vão crescer mais porque ainda têm muita oferta” em combustíveis fósseis. A Toyota é uma das que mais sofrem com a medida porque os híbridos do catálogo não são plug-in, perdendo desconto no ISV.

Por exemplo, nos utilitários, o modelo Yaris híbrido passou a pagar 1948 euros de imposto em vez de 1169 euros, um agravamento de 66,6%. Apesar de emitir 88 gramas de CO2/km, os 1500 centímetros cúbicos de cilindrada levam a versão mais amiga do ambiente do Yaris a pagar mais 1680 euros de ISV do que a versão a gasolina, com 128 gramas CO2/km.

“Não há dúvidas de que os clientes gostam dos híbridos, mas, confrontados com uma situação de agravamento de impostos, escolhem os veículos a gasolina e a gasóleo”, lamenta o líder da Toyota Caetano. A empresa, ainda assim, vai continuar a pôr à venda as versões híbridas: “Os clientes é que mandam.”

Autocarros reforçados

Noutro “volante” está a aposta do grupo industrial no hidrogénio, que merece o “aplauso” de José Ramos. Em meados de dezembro, a Toyota Caetano Portugal passou a deter 61,94% da CaetanoBus, a fabricante de carroçarias e de autocarros que pertencia à Salvador Caetano Indústria.

A operação teve influência da fabricante nipónica, que tem 27% das ações da Toyota Caetano. “A Toyota ficou muito impressionada com o desenvolvimento dos autocarros elétricos e a hidrogénio da CaetanoBus.” Com veículos em circulação em países como Espanha, Alemanha, Reino Unido e França, o negócio vai dar dimensão mundial à empresa que fabrica pesados em Ovar e Vila Nova de Gaia.

“A Toyota vai contribuir para a expansão da CaetanoBus em outros mercados internacionais, até fora da Europa. Também estamos com uma estratégia de vendermos o chassis no estrangeiro, em mercados como o brasileiro”, antevê José Ramos.

Apesar de ter fabricado dezenas de autocarros elétricos no ano passado, a CaetanoBus está cada vez mais virada para o hidrogénio. Durante este ano, vai instalar o primeiro posto de abastecimento para este combustível em Portugal, junto à fábrica de Ovar. Foi necessário, para isso, investir um milhão de euros na compra das peças.

Até agora, a empresa tem de ir a Espanha buscar tanques de hidrogénio para poder fazer os primeiros testes em solo português. Nesta tecnologia, a empresa já investiu 9 milhões de euros e prepara-se para injetar outros 7 milhões neste projeto.

Os autocarros a hidrogénio também poderão começar a ser utilizados nos aeroportos ingleses, contribuindo para uma redução mais rápida das emissões nestas infraestruturas.

Apesar dos elogios, José Ramos espera ainda que o governo crie “linhas de abastecimento do hidrogénio, para evitar o que se passou com a rede de carregamento de automóveis elétricos”, que esteve cerca de uma década em projeto-piloto, sob alçada da Mobi.E.

Só quando houver uma rede de abastecimento de hidrogénio é que poderão chegar automóveis como o Toyota Mirai, movido a pilha de combustível, que apenas emite água pura e que conta com perto de 500 quilómetros de autonomia na sua segunda geração.

Em meados de dezembro, a Toyota Caetano Portugal passou ainda a deter 49% da empresa de aluguer e comércio de automóveis Finlog, que também era totalmente controlada pelo grupo

Salvador Caetano. Com a Finlog, a Toyota Caetano pretende aproveitar todo o conhecimento desta empresa para lançar serviços de aluguer de veículos elétricos.

Ainda a funcionar, mantém-se a fábrica de automóveis da Toyota em Ovar, que comemora 50 anos de atividade em 2021. Atualmente, dedica-se à produção da série 70 do jipe Land Cruiser, destinado ao mercado sul-africano. “Montamos entre dez e doze unidades por dia e temos tido as encomendas estáveis em ano de pandemia.”

Este esforço já foi reconhecido pelo grupo japonês, que deu o prémio “Nunca desistir” a esta fábrica nacional. Nunca desistir também será o lema da Toyota Caetano para este ano, apesar das curvas apertadas criadas pelo Orçamento do Estado.